É um Restaurante abre dia 1 de outubro. Comida feita e servida por pessoas que deixaram de viver na rua. Agora trabalham aqui.
Vamos chamar-lhe Manuela por questões de privacidade. Manuela vivia até há bem pouco tempo numa tenda, junto à Estação de Santa Apolónia. Foi um dos sem-abrigo identificados pelas equipas de rua da associação Crescer para integrar este projeto e passar a trabalhar no É um Restaurante.
É um restaurante
Manuela contou a Alexandra Evaristo, a psicóloga responsável pela primeira triagem deste projeto, que estava “cansada de viver uma vida que não era a dela”. Durante todo o tempo em que trabalhou num restaurante, nunca ninguém soube que Manuela vivia na rua. Alexandra Evaristo recorda o dia em que a conheceu: “uma mulher muito motivada, bem arranjada. E com uma motivação: compor a sua vida e reunir condições económicas para ter de volta a sua filha menor”.
E por isso foi complicado abandonar a rua. Manuela preferia poupar no tecto e amealhar na conta bancária. Mas um dia, quando surgiu a oportunidade de um quarto vago em Lisboa, devolveu a chamada à psicóloga e comunicou com convicção: “eu quero recompor a minha vida”.
Quando o É um Restaurante abrir as portas ao público, no próximo dia 1 de Outubro, Manuela estará entre a equipa de colaboradores, na sala do restaurante. “A Manuela tem boa apresentação, por isso concordámos com a sua escolha”, conta a psicóloga.
Vai ajudar a servir “cozinha de conforto e de partilha”, como descreve Américo Nave, psicólogo e diretor da Crescer, uma associação que desde 2001 ajuda a tirar pessoas da rua, dando-lhes uma casa, com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa (projeto É uma Casa).
É um Restaurante nasce de uma ideia da Câmara Municipal de Lisboa, que lançou o desafio à Crescer, para gerir um restaurante com pessoas sem-abrigo, dando-lhes a oportunidade de enconrar um futuro na restauração. O primeiro passo consistiu na identificação destas pessoas. O grupo de 27 foi entretanto encurtado e integrado numa sessão de formação na Escola de Hotelaria e na associação Crescer (sobre comportamento básico). Até aqui, os formandos foram subsidiados pelo IEFP, e a partir do momento em que o É um Restaurante abrir portas, cada um dos 15 elementos receberá uma bolsa de 450 euros.
O objetivo é tornar o projecto autónomo a curto prazo.
Desde o início do projeto está também o chef Nuno Bergonse. Pertence-lhe todo o conceito do espaço, bem como a autoria das receitas. David Jesus será o Chef executivo e aquele que estará fisicamente todos os dias no É um Restaurante.
Para os colaboradores, que deixaram recentemente as ruas, este será um local transitório e de formação on job. Pretende-se que este espaço seja um trampolim para a integração no mercado de trabalho.
É este o sonho de Manuela. E está cada vez mais perto. Dia 1 de outubro, É um Restaurante, no edifício do antigo Zé Varunca, próximo da avenida da Liberdade, está à nossa espera.
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