Cabelos Brancos - João Borges

Branco: a conversa entre mim e o meu cabeleireiro João Borges

Porque sou uma profissional de comunicação que trabalha com a imagem diariamente, quando chegaram os primeiros cabelos brancos, cedi à pintura. Convenhamos que, mais por respeito a uma equipa que está nos bastidores, empenhada em produzir a minha melhor imagem,
do que por vontade própria. Acontece que a pintura não é um procedimento mágico. Obedece, sim, a uma rotina que me aborrece de tédio e que implica uma disponibilidade física e mental. O salão do meu cabeleireiro João Borges é ótimo e acolhedor, mas não consegue eliminar o meu ar
resignado sempre que entro em romaria da pintura. É nesta altura que recordo a minha infância: quase têm que me ralhar e mostrarem-me os brancos ao espelho para, em formato de chantagem, convencerem-me da necessidade de esconder o que corresponde na verdade ao natural.
Sinto-me coagida por aquilo que é importante e estético ao olhar dos outros. Confesso. E olho com inveja para a capa da Vogue com a Sónia Braga, de cabelos brancos. “O meu cabelo é uma metáfora muito importante para mim. Mas, cabeleireiros, vocês não vão ter que sujar mais a mão e usar aquela luvinha – não quero pintá-los nunca mais. É uma sensação de liberdade muito grande, de normalidade, de natureza mesmo”, diz a atriz brasileira na entrevista.

Eu bem leio esta entrevista em voz alta. Acabei de fazê-lo junto ao meu cabeleireiro. Mas ele não me ouve. Mostro-lhe os tons prata da Judi Dench, os tons da Glenn Close e até o prateado glamouroso no Clooney lá de casa. Mas ele não tem ouvidos nem olhos para a beleza do grisalho. Não tem ainda, acrescento. Sabem que sou muito persuasiva.

E ainda usei todos os meus trunfos: o próximo passo é mostrar-lhe a revista Glamour de ontem:
“Cabelos grisalhos prateados são a sombra tonificada e fresca para a qual o inverno foi feito”, diz o título do artigo.

Não tenho expetativas de ganhar já a batalha. Mas não custa tentar. Ai, a vaidade é uma coisa complicada e não atinge todos da mesma maneira, não é?

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