Luto - Foto Júlia

Luto.

Hoje é Dia de Luto Nacional pelas Vítimas de Violência Doméstica. Um dia “promulgado” no ano passado, em que mais de 30 mulheres, homens e crianças foram assassinadas em Portugal no contexto de violência doméstica. Só em 2019.

O dia é um mero ato simbólico. E para que vá além disso – é esse o objetivo -, precisamos de fazer… o quê?
As estatísticas dão-nos os números do flagelo. E, praticamente todas as semanas, nestes últimos meses, chegam-me os rostos, as histórias de um flagelo humanamente intolerável.

Uma grande maioria das mulheres que se têm sentado neste sofá foram meninas que assistiram à violência do pai sobre a mãe. E prometeram a si próprias não voltar a assistir a este cenário nas suas vidas. Infelizmente, algumas delas acabaram por encontrar homens agressores.

E depois ainda há o silêncio. O silêncio dos inocentes como a mulher que se sentou há dias no meu sofá, dizendo-me que só teve a coragem de pedir auxílio aos vizinhos, quando viu o seu pai agarrar na cabeça da mãe,  fazendo-a bater vezes sem conta contra a pedra da lareira. A única testemunha: a filha. Mas a descrição é tão crua e nua que dou por mim a visualizar a imagem como se lá tivesse estado. A seu lado.

E depois, há a solidão. As vítimas sentem-se e estão sozinhas. Intoleravelmente e de luto, sozinhas.
Hoje é Dia de Luto Nacional pelas Vítimas de Violência Doméstica. O dia é um mero ato simbólico. E para que vá além disso, precisamos de fazer… o quê? Quando as vítimas abandonam o meu sofá, é esta a pergunta, e algumas respostas, que ficam em diálogo pungente e urgente, no meu sofá.

 

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