Holanda- Coronavírus

“Os meus familiares em Portugal estão assustados. Aqui, hoje, morreu a mãe de um meu amigo, por coronavírus”, Nelson Soares, 44 anos, a viver na Holanda

24 Março 2020. O novo coronavírus (COVID-19) foi confirmado em 195 países ou territórios. O vírus infetou 382,057 pessoas em todo o mundo e o número de mortes está em 16, 565. Os países mais afetados são a China, a Itália, a Espanha e a Alemanha.

Falámos com alguns portugueses pelo mundo, todos eles com o coração apertado pela família em Portugal. São testemunhos atentos, preocupados e que nos ajudam também a retratar a realidade do país onde se encontram. Hoje “viajamos” à Holanda, pela voz e testemunho do português Nelson Soares, 44 anos, atualmente a viver neste país.

 

Holanda, 5560 casos de pessoas infetadas com coronavírus e 276 mortes por coronavírus. Em 10º lugar, nas estatísticas.  

O número de mortes acaba de subir drasticamente, com mais 63 mortes num só dia, o que totaliza 276 (de dia 23 para dia 24). E o governo tomou novas medidas.

“Enquanto esperamos pelas vacinas ou pela medicina, podemos abrandar a disseminação do vírus, e simultaneamente, aumentar a imunidade de forma controlada”, disse o Primeiro Ministro da Holanda  Mark Rutte, na semana passa, em conferência. Na Holanda, ao contrário do isolamento aplicado em Itália e em Espanha, a estratégia inicial passou pela aquisição daquilo a que chamam “imunidade coletiva”, que, segundo o primeiro-ministro,  acontecerá quando um número máximo de pessoas desenvolverem naturalmente defesas contra o vírus. Assim, embora os restaurantes e as escolas tenham fechado, e apesar de haver indicações de distanciamento social (as empresas têm que garantir 1,5 de distância entre colaboradores, arriscando-se a multas de 4000 euros), não há imposições de isolamento. Veem-se pessoas a passear nos parques e só ontem foram proibidos eventos coletivos, como reuniões. Estão proibidas até dia 1 de Junho mas há exceções para funerais e casamentos na igreja. “As pessoas devem permanecer em casa, a menos que tenham que sair para trabalhar, fazer compras ou cuidar de outras pessoas. Não mais que três pessoas devem visitar a sua casa ao mesmo tempo, e somente se puderem manter 1,5 metros de distância”, são regras do governo holandês avançadas ontem pelo Dutch News. Para Nelson, 44 anos, empresário, esta medida tem também um fundamento cultural: “o aspecto cultural teve e continua a ter uma importância determinante. (No geral), as pessoas reconhecem e valorizam a sua Liberdade e a do outro… A tradução desta realidade é comprovada neste cenário pela forma como a generalidade da população aderiu à necessidade de distanciamento ou isolamento social, mas igualmente no facto de o Estado não confinar rigorosamente a população. Aqui na Holanda, o valor da Liberdade Individual é verdadeiramente um valor basal da cultura, pelo que, em todas as circunstâncias (mesmo nesta)  procura-se sempre um equilíbrio entre as necessidades do momento e os valores de sempre”.
Nelson faz parte dos portugueses que tencionavam regressar a Portugal na Páscoa. A viagem foi adiada. Mas o coração está dividido: “os meus familiares estão assustados.  Nunca ninguém, nenhuma geração, viveu uma realidade deste género. É uma guerra silenciosa, uma ameaça invisível, que em vez de nos aproximar, separa-nos, algumas vezes apela ao egoísmo e acaricia os nossos medos e fobias”.

Nelson conta-nos que, no momento em que nos escreve, acaba de receber a notícia da morte da mãe de um amigo, na Holanda, que não sobreviveu ao vírus.

Ainda assim, quando o pior passar, Nelson acredita na janela de oportunidade a reboque desta pandemia: “Vemos hoje como é fácil combater as alterações climáticas (basta parar), vemos como o teletrabalho pode funcionar (porque não trabalhar do interior do país, com uma visita semanal ou quinzenal ao escritório central).Há que compreender como é importante ter autonomia para produzir localmente o que nos pode ser necessário (ir ao supermercados e, nos frescos, ver laranjas de Marrocos, Ananás da Costa Rica, Bananas da Bolívia, etc… nunca me pareceu muito normal)”.

 

Photo by Luis Efigenio on Unsplash

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