Nuno Cruz, na Noruega, sobre a COVID-19

“Aqui na ilha não existem casos COVID-19”, Nuno Cruz, português a viver em Longyearbyen

29 março. 4245 pessoas infetadas, 230 novos casos nas últimas 24 horas e 25 mortes na totalidade, desde que o primeiro caso de coronavírus foi confirmado na Noruega, a 26 de fevereiro. A Noruega, tida como um exemplo a nível de organização e qualidade de vida, é apontada com muitas críticas pela forma como tem lidado com o vírus. A 15 de março, tornou-se o segundo pior país em número de casos per capita com COVID-19 (depois de Itália). Sabe-se agora que a Noruega será dos primeiros países, com Espanha, a receber os tratamentos experimentais da OMS na luta contra a COVID-19.

O Hospital da Universidade de Oslo está entre os 22 locais que irá receber o estudo controlado da Organização Mundial da Saúde.

No globo inteiro, assinalado com casos COVID-19, há no entanto raras exceções. Na cidade mais a norte do Planeta, na terra do sol da meia-noite, não há um único caso confirmado com COVID-19. Longyearbyen é uma cidade agreste do Ártico, fica localizada no arquipégalo Svalbard, na Noruega, e é multicultural. Entre os 2200 habitantes, o português Nuno Cruz. “Aqui na ilha não existem casos. Havia três testes com resultados por saber que, ficámos a saber agora, são negativos. A ilha foi ‘fechada’ a turistas e a não residentes há cerca de duas semanas e desde então, estamos isolados, para o mal e para o bem, já que na Noruega continental, o cenário é completamente o oposto, com cerca de 200 casos por dia, isto num território gigantesco e… com menos de metade da população portuguesa. O facto de vivermos a duas horas de avião do ponto mais próximo do continente dá-nos, para já, alguma segurança e liberdade, inexistentes a Sul”.

Relativamente às notícias dramáticas da Noruega, Nuno comenta: “Quando Portugal anunciou as primeiras medidas, tinha cerca de 60 casos. Umas horas mais tarde, a Primeira Ministra Norueguesa apresentou medidas similares. A diferença é que, por essa altura, a Noruega tinha quase 800 casos confirmados. A situação estava, por isso, já muito fora de controlo e daí para a frente foi o caos e o desnorte completo por parte dos governo, entidades de saúde e, claro, da população. O que se dizia ontem de manhã, à tarde era desmentido e dito para agirem ao contrário, mas hoje já se invertiam as teorias e dizia-se algo totalmente diferente. Os noruegueses são um povo extremamente metódico e socialmente organizado, mas em situações de crise mostraram que (infelizmente) têm muito que aprender. O cumulo da desorientação aconteceu há pouco mais de uma semana quando a Primeira Ministra Erna Solberg veio à televisão, em horário nobre ,falar sobre os incentivos económicos a empresas e particulares e uma hora depois ‘pediu’ para entrar novamente em direto, para retificar algumas dessas medidas. Isto baralhou e até enfureceu a imperturbável sociedade escandinava”, conta.

Nuno, que neste momento está numa situação de lay-off e em isolamento voluntário, acompanha as notícias do seu país, onde tem familiares e amigos. “Nestes tempos vêm ao de cima sentimentos e ditos como o “com o mal dos outros, posso eu bem”, mas neste aspecto, e em pura comparação, as autoridades lusas, embora não tenham razões de se vangloriar (ninguém tem), têm estado à altura deste brutal desafio”, refere.

“Os meus familiares e amigos estão bem, e isso é o mais importante. Mas há receios, e medos pelo que possa acontecer em termos de saúde”, acrescenta. “Gostava de estar errado, mas pelo que tenho acompanhado, em outros países, creio que Portugal ainda há pouco começou”.

“A Noruega, que é do conhecimento geral, um país com sólidas bases financeiras está já com dificuldades de resposta económica em relação a toda a ajuda que já foi pedida. Basta perceber que as maiores empresas na área do petróleo e do turismo (os dois principais motores económicos), têm todas elas 80, 90% (ou mais) de trabalhadores em lay off ou despedidos. E todos aqui ou, aí em Portugal, sabem que ainda agora começou”, partilha o português Nuno Cruz.

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