Bolsonaro, Brasil

“Bolsonaro tem tido uma péssima atuação”, Júlio, português a viver em São Paulo

6 abril 2020. 1,288,080 casos de Covid-19 em todo o mundo; 70,567 mortes e 272,009 recuperados.
O Brasil, à data de hoje posicionado logo a seguir a Portugal, regista 11,298 de pessoas infetadas, 489 mortes e 127 pessoas recuperadas.

Júlio, português a viver em São Paulo, está neste momento em teletrabalho. Lá fora, conta-nos que o movimento é menor, “mas o comércio não está totalmente encerrado. Júlio é casado com Flora (nome fictício), uma brasileira que gere uma escola numa cidade do interior de São Paulo. Vivem em zonas distintas. Flora conta-nos que “onde eu moro, ainda não existe nenhum caso confirmado. De qualquer forma, já estamos em quarentena há 16 dias para conter a propagação da COVID-19”, conta-nos, via WhatsApp.

“Logo nos primeiros dias, criamos um comité de crise para acompanhar a pandemia e que continua em vigor até hoje. Entre as principais medidas tomadas, destaco o regime home office para todos os professores e colaboradores e a implementação de uma plataforma digital, através da qual realizámos as aulas, em tempo real, para os alunos”, salienta.

Mas “o cenário no país é preocupante e o impacto na economia será gigantesco”, consideram. Ainda em São Paulo, mais precisamente em Paraisópolis, uma das maiores favelas da cidade de São Paulo, Gilson Rodrigues (líder comunitário da favela de Paraisópolis e fundador do núcleo G10 das Favelas) fez hoje declarações à imprensa: ““Paraisópolis vive neste momento uma tentativa de se organizar para combater o novo coronavírus, mas, no geral, a população ainda percebe a situação com descrédito (…)  É como se [o vírus] fosse uma coisa da televisão, que não vai chegar aqui, uma coisa dos ricos, por isso as ruas continuam lotadas e as pessoas ainda não tem consciência do que está por vir”.

Gilson Rodrigues diz que há dois “Brasis”, um que consegue fazer trabalhar de casa, e outro que nem acesso a desinfetantes tem. Com 14 milhões de brasileiros a viverem em favelas sobrelotadas e, muitos deles, sem acesso a condições básicas de saneamento, os médicos têm vindo a alertar que o número de infetados será muito maior do que as estatísticas oficialmente divulgadas.

Ainda assim, o Presidente do Brasil Jair Bolsonaro mantém a comparação da pandemia com um “resfriado” e, contra as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do seu próprio Ministério da Saúde, desvaloriza o isolamento e o distanciamento social.

Através das redes sociais, Bolsonaro chegou a postar conteúdos, incentivando os brasileiros a saírem de casa. Mas estes foram bloqueados pelo Twitter, Facebook e Instagram.

Bolsonaro tem tido uma “péssima atuação”, diz-nos o casal. “Felizmente, ele tem uma equipa, cujo Ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, tem assumido uma boa postura e ações de liderança, com esperança de dias melhores”.

Mandetta defende as recomendações da OMS para combater o vírus, enquanto o presidente “pede uma flexibilização do confinamento argumentando que o isolamento prejudica a economia”, reforça a Globo.
As ameaças de demissão do Ministro por Bolsonaro são o tema quente da imprensa: e se Mandetta cair?, perguntam.

Rodrigo Maia, Presidente da Câmara dos Deputados do Brasil, é mais uma voz contra o Presidente do Brasil – diz que o governo deveria agir para “salvar vidas e empregos” em vez de “criar conflitos e insegurança”.

“Falta equipamentos, ventiladores, falta-nos a máscara, FFP2(N95), tão básica e tão imprescindível, falta mais investimento em investigação neste país”, lamenta a mulher de Júlio.

Foto: Twitter

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