Ser avó em tempos de pandemia.
O testemunho comovente que partilhamos é contado na primeira
pessoa. Há coisas que só as avós sabem contar.
“Esperei muito tempo por este dia. Há anos que comentava com os meus filhos o quanto gostava de ser avó. Até que o mais novo adiantou-se e deu-nos a notícia. Ninguém imaginava, na altura, que o parto seria realizado em tempos de pandemia. Mas aconteceu. No dia 17 maio, o meu filho foi levar a mulher à Maternidade Alfredo da Costa e, a muito custo, deixou-a no hospital, sem poder assistir ao momento do nascimento da sua primeira filha. Felizmente, uma equipa espetacular ia tirando fotografias e enviando ao pai, que por sua vez fazia chegar à família mais próxima. Todos à distância e ao mesmo tempo, todos unidos em torno daquela crianças prestes a nascer. Até um live houve entre o meu filho e a sala de parto. Foi emocionante. Mas difícil, quando ele percebeu que durante os três dias de internamento – foi cesariana -, todas as visitas estavam interditas. Ele insistiu, a ansiedade era muita. Mas as regras foram cumpridas. Até hoje. Sou doente oncológica, tive cancro da mama e estou ainda na fase de vigilância. Entendemos todos que, pelos motivos óbvios, não teria contacto com a minha neta. Assim, esperámos uma semana, eu desloquei-me a casa do meu filho e fiquei a vê-la à distância. Chorei. Chorei muito. Tive três rapazes. E, agora, ser avó de uma menina é uma felicidade. Tem 15 dias e chama-se Nahla Dandhara – e o nome foi surpresa para a família até ao dia do nascimento. Os meus pais têm 90 anos e também estão radiantes com o facto de serem bisavós. O fato de banho que partilho nesta fotografia faz parte das prendinhas que vou comprando aqui e ali. Já comprei vestidinhos, sapatinhos… Sabem, eu esperei muito por este dia. E ainda não dar-lhe colo. Vai chegar o dia”.
Teresa Caldeira, avó babada, é também a autora do @blogdemulherescomcancrodemama, um blogue que foi criando com registos das etapas dos seus tratamentos com o objetivo de explicar e encorajar outras mulheres que passam pela experiência.
Avó em tempos de pandemia
