Sohrab, Fátima e Leon

A família que vos apresento no Dia Mundial do Refugiado

Um dia, o jogador profissional de futebol Sohrab apaixonou-se por Fátima. E o amor uniu o que as religiões tinham separado à partida. Sentença: apedrejamento em praça pública. O casal fugiu num bote, a meio da noite. Com um segredo no ventre. Chama-se León e nasceu já no Campo de Refugiados, na Grécia, com capacidade para 2 mil pessoas e onde estão atualmente 22 mil, em situações dramáticas sanitárias.


Dia Mundial do Refugiado, 2o junho

“Assinalamos o Dia Mundial do Refugiado no meio de dramáticas mudanças sociais”, referiu o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR). A ONU decidiu por isso, este ano prestar, homenagem às pessoas refugiadas que estão na linha da frente da luta contra a pandemia. São os “heróis quotidianos” em tempos de pandemia.

Dulce Machado, voluntária portuguesa em campos de refugiados, conhece bem estes homens, mulheres e crianças, forçados a fugir da guerra e de outras violências, e requerentes de asilo. Hoje, Dia Mundial do Refugiado, destaca-nos uma família entre tantas. São os seus heróis quotidianos. Fala-nos de Sohrab, Fátima e Léon.

“Conheci-os no primeiro dia de voluntariado no Campo de Refugiados de Moria, na ilha de Lesbos, Grécia, há um ano. O Sohrab é um homem que não passa despercebido. Ele próprio tinha-se oferecido como voluntário, ajudando na distribuição de comida e de roupa aos restantes refugiados. Chamou-me a atenção a sua generosidade. E fiquei a saber que estava perante um jogador de futebol profissional. Sohrab, natural do Afeganistão, já jogou na seleção nacional do seu país e também já jogou pelo Irão, na altura em que a equipa era acompanhada pelo treinador português Carlos Queiroz.

Acontece que Sohrab, que faz parte do grupo religioso sunita, apaixonou-se por Fátima, do grupo xiita. Dois grupos em guerra. As famílias prometeram vingança. Sohrab foi perseguido de morte. A Fátima pretendiam fazer-lhe mal em praça pública. A única alternativa à morte foi a fuga. E houve uma noite em que apanharam um bote que, no meio de uma autêntica tempestade, chegou ao destino: Campo de Refugiados, na ilha de Lesbos.

As condições são terríveis, o posto médico nem sempre tem médico. E quando tem, as filas são desesperantes. Mas Fátima vinha grávida e o León nasceu no ano passado, em Junho. Faz no dia 26 Junho 1 ano. É um bebé lindo. De um casal generoso, terno e desesperado. Há dias, liguei-lhes e eles choravam sem parar. As rixas dentro do campo são frequentes. A violência está acesa.

Eles saíram de novo, mas sem um tostão no bolso, apenas conseguiram um lugar num outro campo de refugiados, na Grécia. Agora estão em condições ainda mais graves. Neste campo, não há contentores atulhados. Há tendas.
Emociono-me sempre quando penso neles. O sonho de Sohrab é jogar futebol em Portugal (o seu clube favorito é o Futebol Clube do Porto), terra de Ricardo Quaresma e Cristiano Ronaldo, personalidades que muito admira.  O que fazer? Como ajudar? Criei uma petição pública: Vamos trazer a família do Sohrab para Portugal. 

Uma gota no Oceano. Estes são os (meus) heróis. Em tempos de pandemia.”

Para assinar a petição:
https://peticaopublica.com/mobile/pview.aspx?pi=PT99945

Foto de Destaque
Campo de Refugiados de Moria, Lesvos, Grécia- agosto de 2019- Fotografia tirada por Dulce Machado

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