A Hora da Júlia nasceu em tempos de confinamento e com um propósito muito bem definido: dar resposta às necessidades de pessoas que deixaram de ter com quem falar e com quem desabafar. A Hora da Júlia começou assim com estados de alma e vivências da quarentena. Mas depressa evoluiu para conversas mais profundas, intimistas, quantas vezes reveladoras de muito sofrimento. Ouvi histórias de vida marcadas por traumas que o tempo ainda não apagou. Mas também ouvi sorrisos e gargalhadas.
Conversei muito ao longo destas noites da Renascença. Daquelas conversas que, honestamente, senti úteis, ainda que aparentemente algumas fossem apenas trocas de palavras soltas. Agradeço a todos os ouvintes que passaram por minha casa nestas últimas semanas, as primeiras de confinamento. Agradeço a confiança, que é daqueles valores que jamais terá um preço.
Agradeço à Renascença que me desafiou a fazer rádio, na minha própria casa, pela noite dentro, desmaquilhada e frequentemente descalça, já com um pé na cama, à semelhança de alguns dos meus ouvintes, que reconheceram ter prolongado excecionalmente a noite por causa da A Hora da Júlia.
“Conheço” o rosto de cada um deles. É um exercício que a rádio permite pôr em prática: dar um rosto a cada voz, moldado pelo timbre e pela entoação, e imaginar-lhes as suas casas, os espaços físicos de onde me falam. Conheci gente de norte a sul, e alguns recantos mais esquecidos do nosso país. Fiz amigos.
Voltando à pergunta cliché: Júlia, afinal de contas, gostas mais da Televisão ou da Rádio? Eu gosto mais da Televisão. Mas voltei a apaixonar-me profundamente pela Rádio. E a culpa é da A Hora da Júlia. Até um dia.