Sofia Alves, crónica sobre Pedro Lima

Sobre o Pedro, por Sofia Alves, mãe de @eutue4filhos

Sofia, a mãe de @eutue4filhosfala, fala com dor sobre a dor, porque conhece de perto temas que, na sua perspetiva e pelas mensagens que recebeu na sequência da perda do irmão, estão confinados ao silêncio e à vergonha. E mesmo nos aparentes becos sem saída da depressão e do suicídio, Sofia encontra o caminho. Partilho o seu texto. Cheio de amor.

Sobre o silêncio
Crónica de Sofia Alves, mãe de @eutue4filhos

Infelizmente, deparámo-nos com a triste notícia da morte de Pedro Lima.
Ator talentoso que todos reconhecem, acredito que um ser humano profundamente bom, só assim se explica o que aconteceu.
Cometeu suicídio, e tendo sido esta a causa da sua morte, sinto-me profundamente triste quando ouço comentários negativos sobre o episódio. “Egoísta”. “Cobarde”. “Materialista”. “Fraco”. Fico realmente triste quando dizem que ele deixou para trás a mulher e cinco filhos…
Eu também fui deixada para trás, sei bem do que falo, sei bem o que se sente na pele, sei bem a dor que causa.

Antes de chamar alguém de cobarde, numa situação de suicídio, pense um pouco.

Eles que “vão”, não são nada disso, antes pelo contrário. Muitas vezes, a morte é a única solução que encontram para parar de sentir a dor que trazem consigo. Muitas vezes, não se querem matar a eles, mas sim, matar a dor que sentem, e isso, meus amigos, é algo que ninguém conseguirá avaliar de ânimo leve.
O meu irmão libertou-se de um corpo doente, doença essa, por vezes silenciosa, mas que dói e mata. Mata todos os dias mais um bocadinho. E tantas vezes em silêncio.

Nem sempre se fala nas famílias de quem sofre de depressão. Nem sempre se fala nos casos suicidas.
Vergonha? A mim, faz-me sentido amá-los em morte como os amávamos em vida, e ter a confiança de que foram para um sítio melhor.
O amor é sempre o caminho, porque o amor cura. Pode demorar mas cura.

Calçar os sapatos dos outros é assim tão difícil?
Por que é que se tem tanta vergonha de assumir um suicídio, por depressão, nas famílias?
Estas são para mim perguntas realmente importantes e sobre as quais todos nós deveríamos refletir e tentar alterar.

Tenho muito orgulho no meu irmão e no Pedro, conseguiram viver num mundo cruel, tentando todos os dias enfrentar a sua dor, mesmo que muitas vezes tivessem que escondê-la.
Não são fracos, são corajosos – sim, é preciso muita coragem!
Teremos nós a legitimidade para julgar?
Não temos, temos, sim, a obrigação de os continuar a amar.

O amor é sempre o caminho.

Eu escolhi aceitar e deixá-lo ir, acredito profundamente que onde o meu irmão está, estará melhor, é um ser de luz e eu tenho tanto orgulho que ele tenha sido meu irmão nesta vida e que continue a sê-lo na morte.
Espero profundamente que a família do Pedro possa chegar ao sítio onde eu já estou.
“Deixar ir” é o derradeiro ato de amor! E o amor é sempre o caminho.

 

Esta família encantadora já esteve no programa Júlia. Pode rever aqui:

https://sic.pt/Programas/julia/videos/2020-02-03-Durante-a-gravidez-chorava-sozinha-e-depois-de-nascer-a-minha-filha-chorava-a-minha-dor

 

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