Casal - Confinamento

“Não fossem as circunstâncias, mandávamos fazer t-shirts a dizerem ‘Confinamento, I love you'”, Diana Marques

Depois de longos casamentos com filhos e separações difíceis, entenderam que não haveria uma segunda oportunidade. Até se cruzarem no caminho um do outro e chegarem à conclusão de que juntos seriam a “laranja inteira”, como dizem. Não fosse o confinamento, ainda estariam a namorar à distância. Mas decidiram experimentar, com a noção de que “já não estão em idade para andar a brincar às casas e aos casais”. Ela, Diana, 54 anos, receava voltar a ser escrava do lar. Ele, António, 58 anos, receava voltar a ouvir ordens de arrumação e reciclagem. Mas os receios ficaram atrás da porta. Lá dentro, um casal confinado ao amor, garantem. O que começou devagar, devagarinho há dois anos, afinal tem pernas para andar, pela vida inteira pela frente. Fossem outras as atuais circunstâncias, mandariam fazer t-shirts com ‘I love confinamento‘”.

Continuam a chegar-me histórias de pessoas empenhadas em contrariar a curva do aumento de divórcios, noticiados pela imprensa no pós-confinamento. E eu agradeço. Júlia, de bem com a vida só faz sentido com esta “calda de açúcar”.

 

“Conhecemo-nos há cerca de dois anos, através de amigos em comum. E foi assim que começamos a trocar experiências de separações difíceis, fruto de casamentos onde o amor e as conversas deixaram de existir. Casei-me muito cedo, aos 16 anos, e o casamento durou mais de três décadas. O tempo foi voando e o meu filho crescendo, até decidir estudar e trabalhar no estrangeiro. Com a separação, passei a viver sozinha. E não equacionei uma nova relação.

Quando conheci o António, porém, o cenário foi mudando devagarinho. Porque a nossa relação evoluiu também a um ritmo diferente. Tudo é diferente quando temos 16 anos e quando temos 54. Aos 16, atiramos a baia e deixamo-nos ir. Aos 54, todos os passos têm que ser dados conscientemente. Namorámos dois anos. E o confinamento colocou, ou melhor, acelerou a decisão de vivermos juntos.

Mas os receios estavam lá. Eu sou muito arrumada, organizada. Mas não queria voltar a ser escrava do lar. Ele é descontraído, e procurava continuar a viver a vida com alguma descontração. Nos quase três meses de confinamento, encontrámos um equilíbrio que desejamos para a vida toda.

Falámos muito, ajudámo-nos muito e descobrimos o que poderíamos aprender e melhorar um com o outro. Sabemos que não temos idade para andar a brincar às casas e aos casais. Mas entendemos que temos idade para uma segunda oportunidade. E o confinamento possibilitou-nos isso”.

Obrigada Diana Marques. Belo testemunho.

 

 

Photo by Soroush Karimi on Unsplash

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