Feliz por poder concretizar este sonho. Dia Mundial do Sonho

 

A carta foi escrita pela filha, Miriam Valente, que me falou de um sonho para o seu pai, um homem que descreveu como “bom e muito trabalhador”.

Miriam já não vive com os pais, em Vendas Novas. Trabalha agora como arquiteta na Marinha Grande, graças a uma poupança dos avós paternos que lhe permitiu tirar uma licenciatura. Mas ainda tem presente as lides ambulantes de peixaria, dos tempos em que acompanhava o pai. Todos os dias, a rotina começa às 23h30, hora em que sai de casa rumo ao Mercado Abastecedor da Região de Lisboa, que abre à uma da manhã. A viagem é feita com precaução e tempo, porque a carrinha frigorífica de Carlos tem 20 anos e o conta-quilómetros está a chegar a um milhão. Já aconteceu ficar na estrada, à vinda do Mercado, com a carrinha apetrechada de peixe.

O peixe está destinado à população de Vendas Novas e de Montemor-O-Novo. O bom dia de Carlos é muitas vezes o primeiro som matinal dos idosos que habitam os povos mais isolados e que, graças a Carlos, convivem e recebem peixe fresco. De vez em quando também há alguns fiados, porque a vida não está fácil para ninguém, e Carlos entende. O próprio teria já comprado uma carrinha, não fossem estes tempos de crise. É por isso que joga no totoloto. Para ver se lhe sai a sorte. Afinal de contas, ainda tem um filho a estudar. Mas Miriam sabe que o pai não é homem de baixar os braços e, embora tenha 60 anos, nem pensa em reforma.

Foi a pensar em melhores condições de vida que, em tempos, partiu com a mulher para a Suíça. Os filhos ficaram em Portugal, ao cuidado dos avós. A mãe empregou-se nas limpezas domésticas, o pai trabalhava numa oficina.

Hoje, com os conhecimentos que ganhou de mecânica, sabe que a sua carrinha tem os dias contados. E, neste caso, o seu negócio também. Sem carrinha não há forma de recolher e distribuir peixe. A situação tem atormentado a família nos últimos tempos. Por isso, quando Miriam ouviu falar desta iniciativa, não hesitou. E mandou-me esta carta.

Vamos oferecer-lhe uma carrinha com as condições necessárias para manter a sua subsistência, mas que vai fazer também a diferença na vida daqueles que, vivendo em locais mais isolados, podem continuar a comprar peixe fresco. Para mim, também é um sonho proporcionar a continuidade deste negócio que vem de família e que é um forma tradicional de comércio. O senhor Carlos vai continuar a acordar às 3h00 da manhã para amanhar peixe.

Confidenciava ele à minha equipa, quando o contactou para lhe dar a notícia, que eu era a sua companhia, via Renascença, durante as viagens para o MARL. E que desde então, nunca mais tinha sabido de mim. Cá estou. A concretizar-lhe um sonho. Não há coincidências.

 

Recebi milhares de cartas. Milhares de sonhos. E, acreditem, a decisão nunca é fácil. A boa notícia para quem concorreu é que a iniciativa não fica por aqui.  Vamos concretizar mais sonhos. Em julia.pt Fique atento. E bons sonhos.

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