Alvito

“Aqui não se passa nada. Jogamos dominó, pouco mais. Aqui sinto-me mais seguro”, Francisco Farçadas, 75 anos, Alvito

Dos 308 municípios do país, há apenas três exceções, nas quais não se registam quaisquer casos do novo coronavírus: Lajes das Flores e Flores, nos Açores, e Alvito, no Alentejo, mantêm-se a zero.

Bom motivo para uma visita – à distância, a este Alentejo profundo, conduzida por quem é nascido e criado na terra. Francisco Farçadas, 75 anos, faz as honras da casa e, através de uma conversa telefónica explica-nos o que se passa no concelho, atualmente com cerca de 2400 habitantes. Não se passa nada, conta-nos. Não fossem as câmaras dos jornalistas da SIC e da TVI, pelas ruas da freguesia, no fim de semana passado –  em reportagem pelo facto de Alvito ser o único concelho do Alentejo sem um único caso de Covid-19 desde o início da pandemia – seria a tranquilidade do costume. Ora, como afirmou ao jornal Expresso o presidente da Câmara, João Valério, o isolamento que noutras alturas nada tem de positivo agora funciona a favor”. Alvito é um dos concelhos mais pequenos do país e está longe das grandes vias de circulação. Foi por isso que, mal começou a pandemia, Francisco, mais conhecido por Xico, pegou na mulher e neta, 20 anos, e partiram de Lisboa (onde vive desde os 14 anos) para a terra natal. “É uma questão de prevenção. Em Lisboa, sentimos que as coisas estão complicadas quando saímos à rua. Aqui estamos mais à vontade”, refere. Em Alvito, as rotinas mantêm-se, com a diferença do cumprimento das medidas de proteção.  “De vez em quando, se há alguém que não está a usar bem a máscara, é abordado pela GNR, que de forma educada, pede à população que respeite as normas”. Francisco sai pela manhã com a mulher, e tomam o café no mercado. Usam sempre máscara. Francisco volta a casa (manteve a casa em Alvito) à hora do almoço, entretendo-se até lá, a ver à distância os jogos de dominó e de cartas que ainda são habituais nos largos e praças da freguesia. Não joga, mas garante que o divertimento de quem assiste é equivalente. À tarde, o tempo também se passa entre jogos de reformados, e após o jantar, os homens voltam ao café para ver a bola. Ao todo, serão uns cinco no café e com alguma distância, contabiliza Francisco. ” Não temos recebido visitas de pessoas de fora. A minha filha e netas viram-me este fim de semana, mas graças à televisão que veio cá a Alvito. Ficaram muito contentes de ver o pai/avô”.

Francisco sabe que a pandemia está por perto. Mas em Alvito, continua a sentir-se seguro. A pergunta que circula é: até quando? Francisco não tem resposta. Mas sabe que a população está a cumprir para atrasar a chegada.

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