Hoje, o menu do Blogue Júlia é da autoria da chef Cátia Goarmon e as receitas são inspiradas no tema do novo livro da apresentadora de Os Segredos da Tia Cátia (24Kitchen): “nada há mais português do que a comida de tacho”. E são as comidas de tacho que, não fossem os tempos de pandemia, permitem aqueles convidados de última hora – basta acrescentar alguma coisa ao tacho para satisfazer os comensais.
No caso de Cátia, “algum coisa” implica sempre criatividade, sabor, um pouco de loucura e muito amor. Como é que será a sua consoada de Natal? Já lá vamos… Primeiro, a receita da Açorda de Bacalhau da Tia Cátia. Mas também lhe pedi a receita de Aletria de Abóbora – tudo comida de tacho!
Açorda – Comida de Tacho – Tia Cátia
Esta é a açorda de bacalhau da família da Tia Cátia Goarmon.
Ingredientes
800 g de bacalhau
6 dentes de alho
8 fatias de pão seco
Azeite q.b.
Sal e pimenta q.b.
Coentros q.b.
4 ovos
Molho picante q.b.
Preparação
Coza o bacalhau. Depois de pronto, retire-lhe as espinhas e peles e reserve o caldo.
Pique os dentes de alho e reserve. Corte em pedaços ou cubos o pão seco.
Leve um tacho ao lume com uma grande quantidade de azeite e adicione o alho picado e o pão. Tempere com sal e pimenta.
Envolva o pão no azeite e frite levemente. Acrescente o bacalhau e, quando estiver tudo envolvido, deite a água de cozer o bacalhau. Tempere com sal e pimenta.
Adicione os coentros picados e misture. Deite os ovos inteiros, desligue o lume e envolva tudo. Adicione ainda um pouco de molho picante. Sirva a açorda polvilhada com coentros.
Com que idade começou a cozinhar? É verdade que, sendo a mais nova de quatro irmãos,
cozinhava para a família?
Não me lembro quando comecei a cozinhar porque a cozinha sempre parte da minha vida. Como
qualquer irmã mais nova, tive de me impor e, no meu caso, isso terá acontecido por via da comida.
Adorava mimá-los com petiscos e bolinhos e isso continua até aos dias de hoje.
“Os Segredos da Tia Cátia” – conte-me um segredo.
O maior segredo é a forma como cozinhamos um prato, o que damos de nós e o amor com que nos
entregamos.
Quem foi a sua maior influência na cozinha e o que de mais importante aprendeu com ela?
A minha Mãe e a Mimi que me criou de pequenina. Aprendi que cada refeição é única e que a
dedicação com que a fazemos reflete-se no resultado. Em nossa casa, todos os dias se preparavam refeições diferentes. Havia um cuidado imenso com a variedade das receitas e dos ingredientes que culminavam em pratos sempre, sempre muito saborosos. Hoje, com os meus filhos e com o meu marido, procuro fazer o mesmo. Essa necessidade constante de criar pratos originais desperta em mim uma criatividade gastronómica que se converte em receitas por vezes um pouco loucas. Mas tem de ser assim, não há outra forma de criar.
Comida de Tacho” – todas as suas receitas deste livro são de tacho! É também uma forma
de conexão com a cozinha tradicional portuguesa?
A comida de tacho permite-nos ir acrescentando ingredientes e construindo sabores ao longo da sua
confeção. O envolvimento com o tacho está sempre presente, o controlo constante sobre os alimentos,
a capacidade de ir criando e adaptando a receita ao nosso paladar, tudo isso me fascina.
A pretexto de natal, o que é que nunca, nunca falta na sua mesa de Natal?
Na minha grande família, cada um tem a sua especialidade… As ervilhas à francesa e o peru da minha
mãe, o bacalhau espiritual da minha irmã Filipa, os bifinhos da mana mais velha, o bacalhau verde
com broa que faço sempre, as fatias douradas da minha sogra. Como a minha mãe já não cozinha
tanto, eu assumi a parte dela. É uma mesa sempre muito farta que nos obriga e repetir o Natal vários
dias para acabar com todas as sobras. Tentamos que cada Natal seja único e inesquecível.
Comida de Tacho, Cátia Goarmon
