Cabide Mágico

“Tive que ir à luta e não baixar os braços”, Paula Lucas

 

“Tive que ir à luta e não baixar os braços”, Paula Lucas

Há 30 anos que está na mesma rua, no negócio local. Uma rua estreita e secundária, na qual começou por vender calçado como colaboradora de uma sapataria. O gosto pelo atendimento ao cliente fez com que tomasse coragem para alavancar uma loja por sua própria conta e risco, quando a sapataria cedeu à concorrência dos centros comerciais e foi obrigada a fechar portas. “Estamos muito perto de Lisboa (em Vila Franca de Xira) e as pessoas vão para as superfícies comerciais, quando na sua própria terra também há boa oferta”, garante Paula. Há 10 anos, nasceu assim o Cabide Mágico, uma loja pequena de 30 metros quadrados, inspirada pela magia do sorriso e da arte de bem atender de Paula, a proprietária que decidiu manter-se na mesma rua, preservando assim as clientes habituais.

Por iniciativa da filha, Fabiana Lucas, a loja de roupa ganhou uma página de facebook, mas as vendas sempre dependeram dos clientes do costume, das vizinhas e da população local. “As pessoas vêm cá, experimentam, e antes sentavam-se à conversa. Quando não tenho as peças que procuram, eu anoto e depois vou pesquisar junto dos fornecedores. Arranjo sempre o que me pedem”, conta.
A pergunta é: Como sobrevive um negócio local com estas características à pandemia? “No primeiro confinamento, fiquei muito assustada. O negócio local já sofreu muito e passou por muitas crises, mas nenhuma assim tão grave. De portas fechadas, não vendia uma única peça. Mas as contas continuavam a cair. Eu nem sequer podia vir à loja. A minha filha falou-me então na possibilidade de fazermos Lives. Jamais pensei em tal ideia. E resisti durante uns tempos. Até que ela disse: chegou a altura, se não a loja não tem hipótese. Recordo-me de estar muito nervosa. Como ainda estou. Quando o telemóvel começa a gravar sinto que as palavras não me saem…”.
Por insistência da filha, Paula repetiu a experiência e ficou espantada quando um direto, em plena pandemia, feito em sua casa e com roupa de stock, alcançou as 1000 partilhas. As clientes habituais uniram-se, multiplicaram-se e passaram a mensagem. E as encomendas começaram a crescer: “vendi muito, sobretudo collants, lingerie e fatos de treino durante o confinamento”. Mas, para Paula o mais surpreendente foi passar a vender para o Algarve, Santarém e até Luxemburgo. E até Castanheira, que fica a poucos quilómetros, mas onde Paula não tinha clientes, uma vez que a loja chegava apenas aos habituais.

Com o desconfinamento, equacionou-se interromper as Lives, mas as clientes comentavam: “à segunda-feira à noite, continuamos no sofá à vossa espera!”. Sem produção nem maquilhagem profissional, os efeitos especiais destes lives continuam a pesar no orçamento da loja. Paula lá vai cumprimentando quem se acusa do outro lado do direto, mas e ainda assume que, apesar de a venda online ser mais rápida e fácil, nada é tão prazeiroso quanto desmanchar a loja inteira, se for preciso, para satisfazer o gosto da cliente. “Sinto que valeu a pena, que a pandemia nos obrigou a pensar em coisas novas. Tenho 56 anos e nunca tinha pensado fazer um direto na vida, mas tive que ir à luta e não baixar os braços”.

Comentários

comentários