Dia do cão

“Sinto que todos os dias, aqueles dois cães salvam-me um bocadinho”, Luciana, Porto

A relação de Luciana com o namorado nunca foi saudável. E, olhando para trás, sente que foi sempre um misto de “piedade e medo” que segurou o relacionamento. Ela tentava terminar o vínculo face à violência e agressividade de P.. Ele ameaçava pôr termo à vida caso fosse abandonado. Um dia, T. convidou-a para um passeio e, quando Luciana se apercebeu, encontravam-se num descampado e caía a noite. A viagem de carro até ao destino tinha sido marcada por troca de palavras desagradáveis. Luciana começava a temer o pior, isolada num sítio ermo, habitado apenas por carros velhos e pelo receio crescente de o namorado poder “cometer alguma loucura”.

“Aproveitei o facto de ele me largar, e nesse curto espaço de segundos, desatei a correr, gritando o mais alto que fui capaz. Poucos metros consegui de avanço, mas os suficientes para chegar a uma zona de vivendas. As luzes iam acendendo e apagando. Ninguém saiu em meu auxílio. Possivelmente com receio de meterem a colher entre ‘marido e mulher’. Quando ele se aproximou e tentou agarrar-me, atirei-me para o chão, fiz peso morto, para dificultar que me levasse à força. Foi então que surgiram dois cães, ladrando furiosamente na sua direção, e fazendo-o afastar-se. Sempre que ele tentava uma aproximação, os cães rosnavam, impondo medo, respeito. Eu nunca tive medo, pelo contrário. Pela primeira vez desde há muito tempo, senti proteção. Os cães ali ficaram até chegar auxílio e ficar a salvo. Não sei de que raça seriam. Nunca mais os vi. Eram pretos, de grande porte… Só sei que foram os meus anjos da guarda. Depois dessa noite, tomei a decisão de cortar para sempre a ligação. Hoje refiz a minha vida. Sou mãe de duas crianças. E sinto que todos os dias, aqueles dois cães me salvam um bocadinho”.

Foto: https://www.canva.com/

Por questões de proteção, o nome Luciana não é o verdadeiro.

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