São 23h em Tóquio, 15h em Lisboa. E estamos à conversa com Miguel Monteiro, o atleta que conquistou na madrugada de ontem, 29 de agosto, a medalha de bronze no lançamento do peso F40 (atletas de baixa estatura) dos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020. É a primeira medalha de Portugal nestes Paralímpicos. Desde que o atleta de Mangualde conquistou o terceiro lugar do pódio, com o lançamento de 10,76 metros, o seu telemóvel não tem dado descanso, entre chamadas e mensagens de parabéns. “Há umas horas, atendi. Era o senhor Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa a congratular-me pela medalha”, conta, feliz.
Mas também a mensagem de um colega comoveu a equipa: “trata-se de um colega com trissomia 21, um colega cheio de motivação e muito especial pela forma como se relaciona com toda a equipa. Enviou-me uma mensagem de voz muito comovedora”.
Já o treinador não esquece de referir as “palavras sábias” de Filipe Pais (Chefe de Gabinete na Secretaria de Estado da Juventude e do Desporto), que, antes da partida para Tóquio, fez questão de visitar-nos “todas as tardes. Isso conta muito. Para nós, é muito importante dar valor a estes atletas que dão tudo.”
Miguel está orgulhoso. É de bronze a sua compensação por tantas horas de prática e dedicação à modalidade. Atualmente a frequentar o 3º ano de Engenharia e Gestão Industrial, em Aveiro, Miguel concilia os estudos com os treinos diários. Faça chuva ou faça sol. E o foco que coloca em cada etapa da sua vida tem ajudado a cortar metas, acredita. No Rio de Janeiro, tinha apenas 15 anos, o que fez com que fosse o atleta português mais jovem de sempre a participar da maior competição de desporto adaptado do planeta – os Jogos Paralímpicos. Há cerca de um mês bateu os recordes do mundo. Só faltava uma medalha, que chegou ontem.
Ao telefone com o atleta e com o seu treinador de sempre, João Amaral, recordamos como tudo começou, há cerca de sete anos. Na altura, Miguel Monteiro praticava Futsal, no Pavilhão Municipal de Mangualde, onde João Amaral trabalhava. “Lembro-me de, nesse ano, ter assistido a provas de atletas de baixa estatura num Campeonato da Europa, no País de Gales. E partilhei com a Federação de Atletismo que tencionava desafiar um rapaz de Mangualde (Miguel) a experimentar. Tinha a certeza de que, pela capacidade que demonstrava para o desporto, ele poderia ser um grande atleta. Não me enganei.”
Além do seu treinador de sempre, Miguel conta que é inspirado no dia a dia pela família. “Os meus pais (na família, o pai e o Miguel têm nanismo) são a minha maior inspiração. Porque sempre lutaram para que eu e a minha irmã fossemos mais longe, atrás dos nossos objetivos e de uma vida melhor”, conta.
E por isso Miguel mantém o foco. No futuro.
Parabéns Miguel!
Esta foi a primeira medalha portuguesa nos Jogos Paralímpicos Tóquio 2020, que se soma aos cinco diplomas paralímpicos e cinco recordes nacionais já alcançados pelos atletas nacionais até ao momento na competição.
Foto: https://paralimpicos.pt/
