Desconfinamento na Dinamarca

“Aqui deixámos de tratar a COVID-19 como uma pandemia. É mais uma doença”, Cristina Amaro, portuguesa na Dinamarca

Um pouco por todo o mundo, assumem-se medidas de desconfinamento. Nunca estivemos tão perto da realidade que conhecíamos na pré-pandemia. Em Portugal, a última fase do levantamento das restrições impostas para controlar a Covid-19 entrou em vigor dia 1 de Outubro. Os bares e as discotecas reabriram, os cafés e as lojas deixaram de estar sujeitos a limites de ocupação. Já não é obrigatório apresentar certificado de vacinação ou teste negativo à Covid-19 nos hotéis e nos restaurantes. E o uso de máscara passou a ser obrigatório apenas nos seguintes locais:

  • Transportes públicos;
  • Lares;
  • Hospitais;
  • Salas de espetáculos;
  • Eventos;
  • Grandes superfícies.

Mas nem todos os países avançam ao mesmo ritmo de desconfinamento. A Dinamarca, por exemplo, foi o primeiro país europeu a levantar todas as restrições. Em abril, era notícia pelo facto de ser o primeiro país a abrir as escolas, fora da Ásia. E as imagens de Copenhaga já pouco lembravam nessa altura o cenário de pandemia. “As lojas e os restaurantes  sempre estiveram abertos, à exceção daqueles dois meses mais difíceis de confinamento, em que estávamos todos fechados em casa com medo”, conta Cristina Amaro, uma portuguesa a viver na Dinamarca e criadora da página de facebook “Portugueses da Dinamarca”. 

“Eu, por exemplo, nunca usei máscara na rua”, conta Cristina. “Atualmente, o uso de máscara é obrigatório apenas nos hospitais e quando vamos fazer um teste à Covid-19”, explica.

A última das medidas a cair na Dinamarca foi a apresentação do certificado de vacinação nas discotecas, a 1 de setembro. “O dia 1 de setembro calhou a uma quarta-feira. Acontece que houve muita gente a colocar férias no dia 2 de setembro. As discotecas encheram. Eu e as minhas amigas agendámos logo uma ladies night para dia 10 setembro. E finamente voltámos a sair à noite”, recorda Cristina.

O rápido regresso à normalidade na Dinamarca (a capital já recebeu um concerto que reuniu 50 mil pessoas) tem sido associado à elevada taxa de vacinação. Mas Cristina, que acompanha com atenção as duas realidades em simultâneo, a portuguesa e a dinamarquesa, tem outra opinião: “julgo que estamos a par e passo com Portugal no que respeita à vacinação. Para mim, a grande diferença está na testagem. Eu saio de casa e nem é preciso caminhar muito para encontrar um posto. Existem imensos postos de testagem à covid-19 espalhados por todo o país. E os testes são gratuitos”.

Para Cristina, a testagem gratuita e em massa tem feito a diferença no combate à pandemia. “Quando foi permitido os bares abrirem até à meia-noite, a população receava um aumento de casos de Covid-19. Mas isso não aconteceu”.

A portuguesa de 49 anos acredita que o pior já passou: “sim, existem lojas que fecharam e que não abriram mais. Mas atualmente há novos negócios a prosperarem. Também houve pessoas que ficaram sem trabalho. Os estudantes portugueses Erasmus com part-times na hotelaria tiveram que regressar. Eu própria trabalhava numa agência de viagens, um setor muito afetado na pandemia”. Cristina mudou de emprego e é agora residence manager na embaixada suíça, na Dinamarca. E os quinze anos de residência neste país ajudam-nos a interpretar a forma como os dinamarqueses passaram a abordar a infeção Covid-19: “os dinamarqueses são muito práticos. Aquilo que mais os preocupava era a capacidade dos hospitais. Essa questão está controlada. Passou-se então a conviver com esta doença de forma mais relaxada e descontraída. Os dinamarqueses têm procurado desdramatizar o assunto. Até porque vem aí o Inverno e as horas de sol são poucas. E como sabemos, a falta de sol está associada a depressão. Por tudo isso, não podemos ter receio de sair de casa. A covid-19 deixou de ser encarada como uma pandemia na Dinamarca. É agora mais uma doença”.

Recorde-se que em Portugal, em setembro, a DGS também já partilhou que o “foco vai tender a ser na doença”.

Obrigada aos portugueses pelo mundo que continuam a contribuir com o seu testemunho acerca do que acontece lá fora.

 

 

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