O meu primeiro beijo, a sério, foi roubado. Não configura no estereótipo romântico mas teve uma particularidade bizarra. A primeira vez que um rapaz me beijou na boca foi dentro de um buraco imenso, numas escavações arqueológicas, numa empreitada de férias de Verão, ambos arqueólogos amadores.
Eu era muito novinha, ele preparava-se para entrar na universidade. Ele foi efetivamente investigador e arqueólogo de carreira, eu meti-me na comunicação. Por vezes, interrogo-me o que teria sido a minha vida se me tivesse deixado ficar naquele beijo tão carinhoso e numa existência feita de conquistas académicas. Acresce para apimentar a história que o buraco em questão era uma imensa sucessão de sepulturas e de esqueletos que íamos descobrindo debaixo de pó e de um sol inclemente. Eu tinha acabado de descobrir um objecto qualquer e, quando me virei para lhe mostrar e perguntar e se podia removê-lo (ele era o chefe da minha equipa), ele agarrou-me pela cintura, com força e beijou-me com arrebatamento. Eu estava coberta de pó, ele tinha um chapéu ridículo. E foi um beijo que nunca esqueci. Porque foi o primeiro, de muitos que me deu mais tarde. Foi o meu primeiro namorado. Durou quase toda a minha adolescência. Acabamos e voltamos a namorar muito mais tarde. Não casamos, por acaso. Nesse tempo, eu não queria casar nem ter filhos. Ele foi lecionar para uma universidade nos Estados Unidos. E eu conheci o meu marido…