Dia mundial da Voz . Facilmente poderia dizer que não é um dia para eu celebrar. A natureza dotou-me com um aparelho vocal sem controlo, capaz de se manifestar com vontade própria e sem que eu tenha a percepção de que estou a incomodar quem me ouve. Suspeito que esta característica tão marcante na minha vida profissional e privada, foi herdada da mãe do meu pai e da minha avó Olívia, uma minhota rija que criou sete filhos com mão de ferro e gritos estridentes. Dela herdei a capacidade de produzir gémeos (a senhora procriou dois pares) e a voz.
A minha vergonha …o meu embaraço e a minha força. Sendo eu casada com uma das melhores vozes de Portugal, muitas vezes chorei nos braços do meu marido, desesperada porque a minha voz não evoluía para um patamar razoável de performance radiofónica. Premonitoriamente, foi ele que disse há trinta e dois anos atrás que esse seria o meu maior atributo. Não há nada mais chato do que dar razão aos maridos …mas a verdade é que a determinada altura, a minha voz foi cooptada para o circuito das vozes publicitárias, um género no qual tive uma carreira brilhante e muito proveitosa. Fui a primeira voz dos sistemas operativos de voz da Telecom e fiz muitos programas de rádio e televisão. A estridência da minha voz é quase sempre a temperatura da minha energia e alegria . Se me ouvirem falar baixo …fujam. Significa que estou à beira das lágrimas ou que estou muito zangada …a minha família prefere sempre a versão mais ruidosa.
