Há três dias, os eleitores britânicos decidiram que o Reino Unido vai sair a União Europeia. ‘Júlia – De Bem com a Vida’ esteve à conversa com dois portugueses que vivem no país e temem pelas consequências imprevisíveis do desfecho do referendo.
Sandra Gomes, 29 anos
Bristol
Consultora de Eventos
Sandra é licenciada em Jornalismo e Comunicação. Em Portugal, nunca teve um único contrato de trabalho. Farta da ‘ditadura’ dos recibos verdes, fez as malas, rumou a Bristol e há três anos que vê o sudoeste de Inglaterra como uma segunda casa. Confessa-nos que o resultado do referendo lhe soube como um “murro no estômago”.
“Sabia que ia ser um resultado muito renhido, mas não estava à espera que a campanha a favor da saída da União Europeia levasse a melhor”, admite. “Agora o que mais se ouve é ‘como vai ser agora?’. Aliás, a nossa maior preocupação, enquanto imigrantes, é saber o que deve ser feito”.
Quanto aos impactos do Brexit, pensa que “para já, não se vão sentir muito”. No entanto, quando os parâmetros ficarem bem definidos, não descarta a possibilidade de começar de novo noutro país.
“Devemos ter pelo menos dois anos até o processo de transição terminar, mas se as coisas não agradarem o mais certo é muita gente aproveitar para sair do país e procurar outro destino”, explica. “Pelo menos será assim no meu caso”.
Até lá, questiona como será em relação a um dos princípios-base da União Europeia: a livre circulação de pessoas.
“Fico curiosa pa saber qual o acordo a ser tratado com a UE. Se antes ia quando me apetecia a casa (Portugal) esse hábito com certeza vai mudar”.
Carlos Pedreira Gomes, 31 anos
Manchester
Subgerente de um bar
“As pessoas foram completamente iludidas. Durante toda a campanha do ‘Leave’, o Nigel Farage [líder do Ukip, Partido para a Independência do Reino Unido] prometeu que o dinheiro que hoje vai para a União Europeia passaria a ir para o Serviço Nacional de Saúde. No entanto, desmentiu-o numa entrevista”, explica. “Foi a primeira vez que vi um jornalista em choque”.
“Eles baseiam-se naquilo que vêem e ouvem. Não têm interesse em desenvolver uma opinião própria e vão acabar por sofrer na pele com isso”, afirma.
“O meu receio é tanto por elas como por mim. Tenho que saber o que fazer e o que vai acontecer a partida daqui; se vou ser obrigado a tirar o visa deles, que não é nada fácil, ou se vão dar algum crédito por já estar cá há dois anos e fazer os meus descontos..”