“Ser artista num país divorciado da sua cultura é uma provação diária e constante”

Overexpression é o mais recente disco do músico.

Depois de lançar “pó”, com Mafalda Arnauth, Darko falou a Júlia-De Bem com a Vida sobre desencanto. 

“Corramos para a praça da desgraça e contemplemos só o que reduzimos a pó.” Com o que é que se tem desencantado nesta vida?

Com a falta de amor e tolerância. Com o crescimento crónico da futilidade e a industrialização do vazio emocional e cultural. Dos números acima das pessoas. Com a minha indústria e com a idolatração do ridículo em detrimento de conteúdos lúdicos e didáticos úteis para a nossa instrução social. Com a falta de condições de tantos portugueses para investirem nos seus sonhos e com o facto de nivelarmos tudo através de uma medida mediana, não havendo espaço para a meritocracia necessária a um bom desenvolvimento humano. 

Cinco pessoas para realizarem o vídeo “Pó”. Os trabalhos saem assim quando se trabalha rodeado de amor concentrado? Com pessoas que compreendem a sua música?
Creio que, por força das circunstâncias, o bom e velho português é mestre na arte de fazer omeletes sem ovos. Cada vez mais apuramos formas de competir com os melhores, com a noção das nossas naturais limitações financeiras e logísticas. Rodearmo-nos de gente que entende a nossa visão e se entrega de alma e coração é meio caminho para viabilizar tais objectivos.
Porquê a a Mafalda, e como foi esta parceria?
Porque a temática desta música é transversal em termos geracionais e porque para mim era imprescindível ter uma voz com história e vida. Trabalhar com a Mafalda tem sido uma viagem maravilhosa, de apreciação e respeito mútuo e também o início de uma bonita amizade.
Diz muitas vezes que fez as pazes com a música. Como foi esse processo? 
Foi e é difícil e surpreendente todos os dias. Não sou dos que enfatiza uma vida de glamour e sonho quando tal não corresponde à realidade. Ser-se artista num país divorciado da sua cultura é uma provação diária e constante. Por um lado, o amor e dependência que tenho da arte, por outro a integração que ela tem que ter num mercado com o qual tantas vezes não nos identificamos. Talvez fosse mais feliz se a música tivesse sido um hobbie. Talvez não. No entanto, não aprendi a deixar nada a meio e de certa forma orgulho-me desse masoquismo.
"Ser artista num país divorciado da sua cultura é uma provação diária e constante" cleardot

 

https://www.youtube.com/watch?v=XN3xSjAWq98

Por Marta Amorim

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