Este título é intencionalmente subversivo.
Não vamos falar de como as mulheres vivem os ambientes em casa, ou de como se organizam dentro de quatro paredes.
Falamos antes de um grupo de mulheres que desbravaram caminho no design internacional para que hoje um punhado delas dê cartas num mundo que até há uma geração era predominantemente masculino.
Que mulheres revolucionárias foram essas e que valores preconizaram? Como HOJE influenciam a nossa vivência dos interiores? Escolhemos quatro nomes de mulheres para contar uma história no feminino.
Revolução 1
Charlotte Perriand, Ray Eames, Zaha Hadid e Patricia Urquiola. As três primeiras, já só presentes em espírito, estão imortalizadas pelo seu legado. Começando pelo princípio: Charlotte Perriand nasceu em Paris. Viveu entre 1903 e 1999. Foi primeiro arquiteta e depois designer, discípula de Le Corbusier, o arquiteto modernista, seguidor da Bauhaus, que abriu a arquitetura ao exterior e influenciou gerações infindáveis de criadores. Conotada com ideias de esquerda, Perriand foi revolucionária no caráter e na obra. Viveu no Japão nos anos 40 e, no regresso a Paris, já nos anos 50, introduziu um novo conceito na arquitetura de interiores: o da abertura da cozinha à casa, da inclusão da mulher e da sua vivência no espaço doméstico. No mobiliário, tem editado até hoje um conjunto de peças, em especial pela marca italiana Cassina.
Revolução 2
Ray Eames foi o motor de uma das duplas mais produtivas, senão a mais produtiva e experimentalista, da história do design.
Nasceu na Califórnia em 1912. Há quem diga que viveu ensombrada pelo carisma de Charles, de quem foi aluna, antes de se tornarem marido e mulher, mas que era ela o grande motor criativo da dupla imortalizada no nome ‘Eames’. Ray foi ilustradora, pintora, cenógrafa, designer, coprodutora e co-realizadora de todas as obras, incluindo os filmes feitos pelo casal. Nos anos 70, Ray dá um passo em frente e coloca-se na ribalta, vendo o seu trabalho reconhecido pela crítica. Morreu em 1988, 10 anos após o desaparecimento de Charles Eames, e durante essa década deu por acabadas muitas das obras iniciadas pelos dois, deixando meticulosamente organizado o espólio de uma vida de vasta produção artística.
Revolução 3
Zaha Hadid, designer e arquiteta iraquiana, amante das formas sinuosas, professora honorária em várias universidades internacionais. Zaha foi preconizadora de uma linguagem orgânica pura e dura, excêntrica, rotulada de neofuturista. Nem a propósito, formou-se em Matemática na Universidade de Beirute, no Líbano. Tem obras edificadas nos quatro cantos do mundo. Foi a primeira mulher a ganhar o Prémio Pritzker, em 2004. Hoje, sete meses depois do seu inesperado desaparecimento, o seu Estúdio Zaha Hadid Architects, com sede em Londres, continua o seu legado na defesa de um dos princípios da criadora, para quem “um edifício pode mudar a nossa forma de pensar”.
Revolução 4
Patricia Urquiola
Arquiteta e designer contemporânea, nasceu em Oviedo, Espanha, e formou-se em Itália, tendo sido discípula de Achille Castiglioni. Foi ela que disse que arquiteto em italiano é um substantivo que só existe no masculino. No dicionário, “não existe arquiteta, só arquiteto”. Dirige um estúdio multidisciplinar com mais de 20 pessoas. É uma das designers mais produtivas, efervescentes e respeitadas na atualidade. É atual diretora criativa da top brand italiana Cassina.
Quatro revoluções, quatro mulheres, quatro tempos na história que em comum têm os valores do funcionalismo, da visão global, da generosidade e da hiperatividade criativa que ‘toca às mulheres’ em geral.