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Branco mais branco não há. Quando as mulheres não querem pintar o cabelo

De Hollywood à vida real, o movimento pró-cabelos brancos está a ganhar adeptas.

Mais que a cor, estas mulheres assumem o envelhecimento, a sobrevivência ao cancro, ou o simples desejo de não ficarem reféns das tintas. É um movimento de liberdade que recolhemos destes testemunhos.

‘Tenho cabelos brancos, e daí?’ é uma página de Facebook criada por Elaine Azalini Máximo, uma brasileira de 52 anos, orgulhosa por ter assumido o seu cinza como cor favorita. O facto de esta página (ou movimento) ter quase cinco mil likes releva que Elaine não está sozinha nas opções, como conta a Júlia − De Bem com a Vida:

“Sou a caçula de sete irmãs que pintam o cabelo. Aos 40, comecei a usar champôs de cor ou henna (planta da qual se extrai corante para produtos capilares), mas depois parei com tudo.”

Porém, apenas criou a página quando, em 2011, numa festa de aniversário, uma amiga lhe perguntou quando iria (finalmente) pintar o cabelo. Elaine não aceitou bem a indireta e reagiu. E o que começou por ser um desabafo é hoje uma inspiração e ajuda para muitas mulheres que se encontram “presas às tintas”.

“Acho que é um movimento de libertação das tintas, do alisamento e de uma imposição social de que cabelos grisalhos envelhecem as mulheres e deixam os homens charmosos”,

conta Elaine. A sua história já inspirou outras mulheres a deixarem de pintar o cabelo (entre elas, uma irmã e algumas amigas).

“Há mulheres que, por alguma doença, como cancro, não podem usar tinta de cabelo e encontram nesta página exemplos de como ter cabelos bonitos e naturais. Encontramos mulheres que até decidem começar do zero e rapar o cabelo para se verem livres das tintas”, conta Elaine a Júlia − De Bem com a Vida.

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Elaine Azalini Máximo

Entre os casos, o de Solange Firmino: “Assumi os cabelos grisalhos quando, há três anos, comecei a fazer radioterapia e não podia pintar o cabelo. Antes disso, estava sempre a pintar, sentia-me escrava, pois em menos de 15 dias tinha de retocar a cor. Agora, além de não me encher de produtos químicos, até economizo. O importante é estar viva e lúcida. Cabelos grisalhos são o meu troféu por ter cancro e estar viva. Tenho 44 anos.” Histórias como estas alistam-se no batalhão de mulheres de cabelos prateados.
Filiam Maria também conta a sua história na página: “Odiava ficar um tempão no salão para pintar os cabelos e depois ficarem ressequidos. Tanta coisa melhor para fazer… tenho 46 anos, já pensava há bastante tempo sobre o assunto e um dia cortei o cabelo muito curto. Recebi muitos elogios, e para quem não gosta, sinto muito.”

A cor da liberdade é o branco

Cristina Oliveira vive em Lisboa e tem 49 anos “fresquinhos”. Pintou o cabelo uma única vez na vida, “por pressão das amigas”, mas jurou ter sido essa a primeira e única vez. “Os cabelos brancos começaram a aparecer aos 30 anos e, apesar do que as pessoas possam dizer, acho um charme”, conta. Quando pintou, aos 45, confessa que estava numa “fase mais fragilizada”, tendo deixado levar-se pelos comentários alheios. “O resultado foi péssimo, pintei para agradar a terceiros, não me reconhecia ao espelho. Disseram-me que era daquelas tintas que iam saindo, e afinal não era nada disso”, conta, entre risos.

Cortou o cabelo curto para que voltasse ao normal o mais rápido possível e, com a ajuda do seu cabeleireiro, hoje já volta a exibir os seus brancos com orgulho.

E a reação no local de trabalho, qual terá sido? A verdade é que se há chefias a fazerem cara feia a cores berrantes, unhas de gel ou maquilhagem extravagante, também há relatos de comentários pouco receptivos aos cabelos brancos.

“’Pinte o cabelo, dá-lhe outro aspeto’, cheguei eu a ouvir de dois ou três superiores. Era, afinal, uma norma contratual, mas faziam-me sentir mal, como se fosse desleixada. Agora já consegui provar que o meu cabelo branco é muito mais bonito e charmoso do que alguns pintados que vejo por lá”,

refere Cristina, orgulhosa.

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Cristina Oliveira

Tal como Elaine, também Cristina procura inspirar as mulheres que a rodeiam: “A minha mãe também já deixou de pintar.”

“É um grito de liberdade, só assim me sinto eu, livre de tintas”

 

Estrelas prateadas

São muitas as figuras públicas que já assumiram este look e que servem de inspiração. Jamie Lee Curtis, Helen Mirren, Christine Lagarde e Cássia Kis Magro são alguns dos nomes que já assumiram um look cinzento. E até Demi Moore apareceu em público com as suas raízes brancas.

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