União por um Deus maior

Unidos por um Deus maior

Lina e Riaz Bhanji tiveram de cruzar fronteiras religiosas e culturais para construírem juntos um projeto de vida e uma família. Ela é de origem hindu e ele pertence à comunidade islâmica, duas culturas que convivem lado a lado mas que têm deuses, crenças e rituais muito diferentes.

Partilhavam amigos em comum, e foi numa festa intercultural que se conheceram, surgindo desde logo um interesse no ar. Ficaram amigos e, com o tempo, foram descobrindo que, apesar de pertencerem a comunidades diferentes, tinham em comum valores e opiniões. A ideia de uma união começou a tomar forma, mas não parecia nada fácil em tradições religiosas que, não sendo fechadas ao exterior, perpetuam de forma sólida o respeito por uma cultura ancestral. “Na altura, achámos que ia ser muito complicado, tivemos ambos de conhecer a outra religião, apesar de ambos termos crescido numa cultura indiana. Não foi motivo para desistir mas sim para continuarmos a conhecer melhor o outro”, explica Lina.

Entre as famílias, tradicionalmente conservadoras, foi sobretudo a dele que mostrou maior abertura à união do casal. Afinal, os pais de Riaz também haviam ultrapassado barreiras religiosas: apesar de serem ambos islâmicos, a mãe era de origem sunita e o pai ismaelita. Lina conversou com os pais sobre o assunto e, apesar de inicialmente surpreendidos com a escolha da filha, acabaram por aceitar.

Sem pressas, e com a ponderação que as grandes decisões devem exigir, o casal deixou o tempo passar para solidificar uma escolha que definiria o futuro, e hoje, apesar das diferenças, tem um projeto de vida em comum, reforçado pela ponderação e pela superação de barreiras.

Lina converteu-se ao islamismo, como manda a tradição, e observa os seus rituais, mas continua a praticar e a ter fé nas suas raízes religiosas hindus.

Na vida em comum, o casal decidiu respeitar as duas religiões. Os filhos frequentam ambas as comunidades e integram tranquilamente as diferentes culturas. Em casa, adaptaram algumas regras, sobretudo no que toca à alimentação. Lina é vegetariana, já que o hinduísmo não aconselha o consumo de carne ou peixe, e na comunidade islâmica a que Riaz pertence a carne de porco não marca presença no menu habitual. O casal conseguiu encontrar um meio-termo à mesa para que ambas as tradições sejam respeitadas, e na casa dos Bhanji apenas se consomem carnes brancas, ficando as vermelhas – à exceção da carne de porco – restritas a refeições fora de casa para os elementos não vegetarianos da família. Adaptações conscientes, ponderadas e assentes em sentimentos verdadeiros, pois só esses permitem alterar aspetos estruturais. Em vez de uma divisão, Lina e Riaz encontraram nas barreiras culturais e religiosas um forte motivo de união.

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