O futuro de Olga e Matilde

Olga, Matilde e… Carolina

Olga e Matilde são um casal e têm uma filha, Carolina, nascida através de inseminação artificial. Aqui não há pai. Mas há família, garantem.

Namoradas há 12 anos, casadas há dois. Pensaram em adotar, mas “a lei em vigor na altura não estava a nosso favor”. A decisão foi muito difícil, e a possibilidade de uma das duas se candidatar à adoção como mãe singular foi sendo adiada, por medo. “A possibilidade de sermos descobertas e de nos poderem tirar o nosso filho deixava-nos apavoradas.” Foi a inseminação artificial que surgiu como opção, em Espanha. Matilde chegou-se à frente após uma deliberação entre as duas. Nasceu Carolina, registada na altura apenas com os apelidos e o nome da mãe Matilde no seu registo.

Esta foi uma luta que finalmente deu frutos. “Agora já tem o nome das duas mães, o nome da mãe Olga também já consta no Cartão de Cidadão. Nos impressos de registo, ainda aparece ‘pai e mãe’, mas no cartão só constam os nossos dois nomes”, explicam. “Neste momento, com a aprovação da lei, já não há diferença quanto ao reconhecimento de duas mães ou de dois pais aquando do registo na maternidade. Os nomes serão reconhecidos imediatamente.”

Apesar da evolução legislativa e da mentalidade da sociedade em si, ainda há muito para fazer. Matilde e Olga assumiram o papel de intervencionistas sociais que batalham por uma causa que as afeta não só a elas, mas a muitas outras famílias que enfrentam os mesmos problemas. “Enquanto mães da Carolina, e como casal, fazemos questão de dar a cara e lutar por uma causa que é nossa e que salvaguarda os direitos da nossa filha, fazemo-lo por ela, pela verdade da e na nossa família.”

E as pessoas têm vindo a aceitar. A perceção sobre a sua situação familiar tem sido muito positiva. As pessoas são mais curiosas e comparam a história de Olga, Matilde e Carolina à de um familiar ou de um amigo que eventualmente também é homossexual e quer ter filhos, ou já teve. Ainda porque quem ainda tem preconceito sobre a sua situação não se manifesta, pelo menos de forma conflituosa. “Quem é de facto preconceituoso não se atreve a confrontar-nos cara a cara, mas sabemos quem eles são”, diz Matilde. “O preconceito vai-se vencendo no dia a dia, quando as pessoas começarem a dar a cara e a assumir que existem e que não interferem com as vidas alheias. Aí, sim, haverá alguma evolução na luta contra o preconceito, na minha perspetiva, claro.”

Educação e elucidação para viver em igualdade

Carolina perguntou uma vez o porquê de ter duas mães, ao contrário dos colegas da escola que têm um pai e uma mãe. Mas o carinho é constante e evidente na família. “Expliquei-lhe que há meninos que têm um pai e uma mãe, outros têm duas mães, e outros dois pais”, conta Matilde. “E perguntei: ‘Mas porquê, filha, não querias ter duas mamãs?’ A resposta foi um ‘Siiiim’ acompanhado de um abraço.”

Já as outras crianças do infantário conhecem a situação e não estranham, ainda que tanto Matilde como Olga salientem que a educadora teve um papel fundamental na educação sobre os diversos estatutos familiares.
A experiência de Olga, Matilde e Carolina mostra que a educação e a elucidação são então dois fatores importantes para que uma família sem figura paterna, mas com afeto, viva com igualdade. E os resultados notam-se.

O casal quer trazer mais um elemento à família. Desta vez, será Olga a proceder aos tratamentos, e agora em Portugal. “Provavelmente iniciaremos o processo pelo Serviço Nacional de Saúde, mas, em caso de necessidade, recorreremos ao privado, pela rapidez.”

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