Pedidos de casamento românticos

Ainda há príncipes e princesas

Homens românticos: Júlia – De Bem com a Vida foi atrás deles e… encontrou-os.

Era simplesmente o solteiro perfeito; sem preocupações, sem responsabilidades, sair às horas que eu quisesse, decidir sem consultar pessoa nenhuma…

Francisco Nomdedeu-Rodal orgulhava-se da sua vocação de solteiro.

Até um dia olhar para aquela que diz ser “a mulher mais maravilhosa de toda a criação”. O financeiro espanhol que esteve em Portugal a trabalhar durante vários anos (e daí a forma surpreendente como se expressa em português) partilha passo a passo os planos que traçou para um dos momentos mais importantes da sua vida: o pedido de casamento. Francisco acha que nunca antes na sua vida o cérebro tinha trabalhado tanto como trabalhou para conquistar Lourdes. Esta, sim, é uma história emocionante para contar aos filhos. O primeiro vem a caminho.

Não queria abdicar da liberdade

“Antes de começar, é importante que eu faça uma pequena reflexão. Antes de conhecer a Lourdes, eu acreditava que tinha vocação de solteiro, e, além disso, orgulhava-me da minha ‘saltearia vocacional’. Era simplesmente o solteiro perfeito; sem preocupações, sem responsabilidades, sair às horas que eu quisesse, decidir sem consultar pessoa nenhuma… Não estava disposto a abdicar da minha vida de liberdade, sem compromissos e sem obrigações.

Mas, como diz um ditado espanhol, ‘Torres más altas han caído’, e um dia de agosto do ano 2010 entrou na minha vida a mulher mais maravilhosa de toda a criação. Eu fiquei espantado de desejo e de amor na primeira vez em que vi a Lourdes. Não acreditava que aquilo me poderia estar a acontecer. Sentimentos que eu nunca antes experimentara na minha vida e que nunca tinha sentido por mulher alguma.

Fulminante

O nosso primeiro encontro não foi fácil para mim. Como dizem os nossos primos argentinos, ela não dava “chance”. Enquanto estava à procura de lhe dar conversa para não ficarmos calados, não perdia a oportunidade de olhar cada milímetro daquela mulher espetacular. Os cabelos, pés, pernas, olhos, o sorriso, a maneira de mover as mãos ao falar, a sua voz, as suas ‘miradas’!

Acredito que nunca antes na minha vida o meu cérebro tinha tido tanto trabalho. Contemplar a Lourdes, procurar conversa, manter a conversa, procurar a sua atenção, os seus gestos. À procura de sinais de tédio ou de falta de interesse. Além de tudo aquilo, a minha imagem, o esforço por manter uma compostura e uma atitude capazes de manter o seu interesse em mim. Mas, como ela não dava “chance”, eu, a cada minuto fazia mais e mais esforços. Acho que os trabalhos do Hércules foram mais simples do que aquele meu primeiro encontro com a Lourdes. Mas o esforço tinha de ser feito, a Lourdes merecia. E eu sabia perfeitamente que estava diante da mulher perfeita com que eu sempre tinha sonhado. E que acreditava poder não existir.

Suspenso

Feita esta primeira reflexão ou consideração, antes de ir ao meu pedido de mão… Vou falar do dia em que eu soube que a Lourdes ia ser a mãe dos meus filhos. Foi num dia de outubro de 2010. Tinha combinado com ela encontrarmo-nos após o trabalho para um passeio na praia. Eu cheguei com uns minutos de atraso. Mas, quando me estava a aproximar, vi a Lourdes ao longe, a uns 300 metros. E ali estava ela.

Recordo-me perfeitamente daquela tarde, o que ela tinha vestido, a sua posição exata. Recordo-me de tudo como se fosse ontem. Foi naquele instante que fiquei como que em suspenso, isolado do resto do mundo, apenas eu e aquela visão da mulher dos meus sonhos, e foi então que percebi que essa mulher, nenhuma outra, era a futura mãe dos meus filhos, a mulher com quem eu partilharia o resto da minha vida, e dissipou-se imediatamente qualquer resto da minha velha vocação de solteiro.

O plano perfeito

Agora, sim, o pedido de casamento. Foi uma coisa planificada com antecedência; de facto, com meses de antecedência. Mas ela mudou um pouco os meus planos. Eu tinha planeado pedir a sua mão nas escadarias da Praça de Espanha, em Roma, no verão de 2013. Desde dezembro eu tinha um jogo com a Lourdes, acerca de algo que se ia passar no verão, e eu insistia imenso em Roma. Mas ela não manifestava grande interesse na viagem a Roma, até que um dia me disse que não gostava de ir a Roma, que queria ir a Paris.

Imaginem, meses de trabalho, de planificação, de procura de lugares na Cidade Eterna para fazer uma viagem inesquecível, e caiu tudo por terra. Como é possível que goste mais de Paris do que de Roma? Claro, para um filho de Roma, como eu, isto é inacreditável.

Como as mulheres comandam e os homens sempre tratam de agradar às mulheres, Paris acabou por ser o destino da nossa viagem. Agora novamente o stress, a planificação, a procura, o estudo, a análise… Tinha de fazer um novo plano de pedido de mão. Por sorte, ainda não tinha comprado os bilhetes nem feito a reserva no hotel.

Paris, mon amour

Assim, decidi fazer o pedido de casamento no Sommet de la Tour Eiffel (Alto da Torre Eiffel) na cidade da Luz e do Amor, com Paris a seus pés. Já gostariam o Cary Grant ou o Gary Copper de fazer isto em algum dos seus filmes.

Mas eu estava impaciente, não podia aguardar até ao segundo, terceiro ou quarto dia da nossa viagem. O pedido de casamento tinha de ser feito no primeiro dia. Desta forma, organizei tudo para que nesse dia fôssemos visitar a Torre Eiffel.

Emocionante

À nossa chegada a Paris, fomos dar um passeio. A Lourdes estava feliz, satisfeita, claro, não sabia o que se estava a passar nem o que ia acontecer durante a tarde. Ela estava como qualquer outra pessoa que chega a Paris pela primeira vez. A essa cidade vista milhões de vezes na televisão, no cinema, em livros e em revistas, e agora a vê-la ali, ao vivo. É emocionante. Eu sabia o que ela estava a pensar e a sentir, porque fora isso mesmo que eu tinha sentido na minha primeira vez em Paris.

Mas, ainda assim, foi para mim diferente, porque eu já tinha visitado Paris imensas vezes, algumas em turismo e outras, muitas, em trabalho, mas naquela altura era diferente. Estava em Paris com a mulher dos meus sonhos, e vivi aquela visita de uma forma muito especial, diferente das anteriores. Paris era novamente uma cidade nova para mim. Emocionante e verdadeiramente a cidade do Amor.

Depois do almoço, fomos para o bairro onde está Os Inválidos. Mais passeio, e visita a Os Inválidos, e eu estava num stress brutal. Nem me importava o Napoleão, nem o seu túmulo, nem o espetacular edifício que alberga o monumento. A Lourdes, claro, seguia em plano turista, alheia a tudo o que estava para chegar. Eu apenas pensava na Torre Eiffel, nas minhas palavras para fazer a pergunta mais importante da minha vida. Foto por aqui, foto por ali, o Napoleão ali em baixo, as palavras a correr em cascata no meu cérebro…

Os nervos apertam

Após a visita a Os Inválidos, a Torre Eiffel. Fomos a pé, nas proximidades mais fotos, nunca mais chegávamos, eu estava mais do que nervoso, e mais fotos, mais beijinhos, mais festas, mais fotos… Stress.

Por fim, ao pé da torre, e… fila, uma fila enorme, parecia-me a fila mais comprida que eu já tinha visto na minha vida. A Lourdes falava, eu não respondia, apenas estava a olhar para a fila. Se demoraríamos muito para entrar. A pergunta, a pergunta. Quais eram as palavras? Ah, sim, já me recordo. Não, estas não, tenho de mudar, sim, assim está melhor. Mais fotos, mais beijinhos, mais festas, mais turistas ao redor… Stress.

Entrámos, eu queria ir já para o Sommet, mas não, temos de fazer paragens em todos os andares − há apenas três, mas parecia o diabo do Empire State, os andares nunca mais acabavam.  Recordemos que a Lourdes estava em ‘plano tourist girl’. Muito emocionada, claro, era a sua primeira vez em Paris, e quero pensar que, como estava com o namorado, era uma viagem especial também para ela. E claro, mais fotos… Stress.

Por fim, apanhámos o elevador para o Sommet. Eu já tinha subido ao Sommet da Torre Eiffel duas vezes, e nunca tive vertigens na minha vida. Mas nesse dia, e naquele momento… a coisa foi diferente. Transpiração, respiração acelerada, nervos, vertigem, uma vertigem brutal e… medo, mais que medo, quase pânico − eu já sou branquinho de pele. E se a Lourdes dizia “Não”? E se eu não recordava as palavras?

“Mas tens medo do quê?”

A Lourdes continuava a desfrutar da viagem, ela estava a fazer turismo, eu não. Junto de nós, estava a subir uma senhora espanhola, que me dizia para não ter medo. Eu imaginava: se esta mulher soubesse o que vou fazer lá em cima… A senhora continuava, com toda a sua boa vontade, a tentar tranquilizar-me. Imagino a expressão que eu deveria ter naquele momento… A Lourdes estava a estranhar um pouco a minha reação e o medo que eu sentia ao subir, mas não sabia qual era a razão. Achava que eu estava a ter um ataque de vertigens.

Por fim, chegámos ao Sommet da Torre Eiffel, com Paris aos nossos pés. O stress, os nervos, as vertigens… desapareceram, voltava a ser eu próprio dono da situação, mas novamente o medo, a respiração acelerada, o pulso como um Fórmula 1. Agora, além das palavras, da compostura, da pergunta, da modulação da voz, de tudo aquilo, havia um detalhe muito importante: a vista. Como? Sim, a vista. E, claro, estavam ali imensos turistas, que não nos deixavam um local livre para nos assomarmos à passarela; japoneses, chineses, coreanos, alemães, espanhóis… Raio de turistas, este é o momento mais importante da minha vida − das nossas vidas − e vocês apenas pensam em tirar fotos. A Lourdes também pensava em tirar fotos e olhar Paris desde as alturas.

Pulso de Fórmula 1

Finalmente, chegámos à passarela. Eu aproximei-me e fiz-lhe a pergunta. “Lourdes, agora que acabo de pôr Paris aos teus pés, a cidade do Amor… Queres casar comigo?” (Curiosamente a frase foi totalmente diferente de todas aquelas em que eu tinha pensado. E tenho a dizer que, no momento de começar a falar, o pânico, a transpiração, o pulso… tudo estava normal e sob controlo, eu era dono de mim próprio outra vez). Mas como reagiu a Lourdes? Por um instante, ela ficou a olhar para mim, surpreendida, o seu olhar − ela tem o olhar mais expressivo da História do Mundo −, esses segundos, dois, três, quatro, não pareciam horas: foram eternos. Voltou o stress, o medo, o pânico, o pulso de Fórmula 1… E então eu escuto: “Sim, quero.” A emoção… Nunca antes me tinha sentido assim. E a Lourdes ficou espantada, ela não esperava aquilo.

Descemos da torre de uma forma completamente diferente daquela que tínhamos subido. Os dois éramos já diferentes daquele casal de namorados que tinha subido. A Torre Eiffel é um local mágico e muito importante para nós os dois. Estávamos mais namorados, mais próximos um do outro, fora um momento mágico e inesquecível, para contar aos nossos filhos e netos.

Eu ia casar com a mulher dos meus sonhos. Pode haver alguma coisa melhor na vida de um homem do que isso? Não acredito.

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