Surf. Passeios a cavalo. Massagens ayurvédicas. Piquenique na praia. Yoga na serra.
Se valeu a pena trocar as quatro paredes do escritório por um dia a dia assim? António Martins responde.
Desde que se licenciou em engenharia civil, António Martins habituou-se a construir uma carreira sólida numa empresa do setor dos transportes: “Em 2004 fui promovido a chefe de divisão e em 2014 fui convidado a ser diretor de serviços na área de Projetos, Obras e Manutenção.” Coordenava equipas, delegava tarefas e desdobrava-se em reuniões. Resumindo: pouca paisagem tinha durante o dia além das quatro paredes do seu escritório. Mas tinha um bom horário. Tinha uma profissão estável, bem remunerada. Tinha carreira. E sempre que o pensamento se desviava para o yoga, modalidade que praticava todas as manhãs antes de chegar à empresa, era nisto que António pensava. “Comecei a praticar yoga, ainda estava a concluir a licenciatura, em 1998. Gostei desde logo do maior conhecimento de nós próprios, do controlo que ganhei, da maior serenidade e calma perante situações adversas e exigentes, que naquela altura eram os exames do Técnico”, recorda. Aluno dedicado também nesta disciplina, foi desafiado a tornar-se professor de yoga. Aceitou. Mas, quando o trabalho se tornou demasiado exigente, viu-se obrigado a optar e abandonou a modalidade. António tinha o sonho de um dia organizar retiros que conciliassem as suas duas paixões: yoga e surf. “Cheguei a entrar num concurso de ideias no qual apresentei a ideia que agora estou a concretizar, isto há mais de 10 anos…”
Não foi uma decisão fácil, conta. “O maior risco era a incerteza quanto à viabilidade financeira do novo projeto. Felizmente tive o apoio de todos, familiares e amigos, que compreenderam que estava a seguir um sonho antigo e deram-me muita força e coragem para ir em frente. Especialmente a minha namorada, Lisa, que muito me inspirou, motivou e ajudou a tornar este projeto possível.”
António continua a acordar às 7h00 da manhã. Mas a agenda agora é diferente: “Quando estamos em retiro, que é obviamente a parte do meu trabalho de que mais gosto, acordo pelas 7h00, tomo um ligeiro pequeno-almoço, preparo-me para dar a aula de yoga, que decorre entre as 8h00 e as 9h30. Segue-se um pequeno- almoço nutritivo e pelas 11h00 preparamo-nos para sair para as atividades (aulas de surf, passeios a cavalo, caminhadas na natureza, passeios de kayak ou de stand up paddle). Por vezes ficamos no centro de retiros a desfrutar da tranquilidade do local, ou das massagens ayurvédicas, dos workshops criativos ou sobre culinária e nutrição.
Ao almoço, um piquenique com o que levámos para as atividades, ou é servida uma refeição leve no centro de retiros. Temos mais uma aula de yoga às 18h00, adequada ao exercício que fizemos durante a tarde, ou seja, mais leve e com alongamento se a atividade foi intensa, ou mais dinâmica e muscularmente exigente se ficámos a descansar ou tivemos atividades ligeiras. O jantar é normalmente às 19h30, sendo no último dia um jantar tipicamente português, com queijos locais, prova de vinhos portugueses, peixe grelhado, e muita música e animação, que tem sido um sucesso.”
O novo projeto chama-se Wide Ocean Retreat. Valeu a pena? “Não valeu, está a valer. Basicamente sinto que hoje tenho mais tempo para viver. Enfim, toda uma experiência de vida que nunca teria se não tivesse a coragem de arriscar, de deixar o emprego estável, de seguir um sonho, o meu sonho!”