Um amigo por dia não sabe o bem que lhe fazia

Um amigo por dia não sabe o bem que lhe fazia

Estudos equiparam a ausência de relações sociais a fumar mais de 15 cigarros por dia. E concluem que ter amizades fraquinhas faz tão mal à saúde como ser obeso. Falemos então agora da saúde que ganha quem cultiva boas amizades.

Cultivar amizades dá trabalho e requer tempo. O emprego e a família consomem praticamente todas as horas da agenda diária e, por isso, marcar um café ou um jantar ao final do dia com amigos é um prazer relegado para segundo, terceiro ou décimo quinto plano. Talvez sim, depois de fazer umas compras de última hora no supermercado. Mas a verdade é que, quando olhamos para o relógio, já só pensamos na alvorada do dia seguinte. Mais uma oportunidade perdida para pôr a conversa em dia. E os amigos ficam confinados aos telefonemas fortuitos, esquecendo-nos de que ter os amigos por perto traz benefícios que vão além de uma escapadela de lazer. A amizade desempenha de facto um papel fundamental nas nossas vidas. “Somos seres sociais, pelo que uma das nossas necessidades mais essenciais é o estabelecimento de ligações emocionais significativas, dando-nos um sentimento de pertença e integração”, afirma a psicóloga clínica Filipa Jardim da Silva.

Através das relações de amizade, as pessoas riem-se mais, exprimem mais emoções positivas, sentem-se mais apoiadas e otimistas, e sentem que têm alguém em quem confiar em momentos difíceis. “A segurança que advém da existência de uma rede de suporte de qualidade é fundamental para a perceção pessoal de valor e até de propósito na vida, sendo um recurso insubstituível na superação de eventos de vida mais desafiantes”, explica a psicóloga.

Quando temos algum problema ou não nos sentimos bem, só o facto de podermos falar com alguém sobre isso já nos ajuda a sentir melhor. Ter amigos melhora o nosso sentimento de confiança e de autoestima, ajuda-nos a lidar com traumas e a dar sentido à vida. Mas não só. Além de melhorar o nosso bem-estar emocional, a amizade tem outra função importante: faz bem à saúde! Como Filipa Jardim da Silva sublinha, “o isolamento social é um fator de risco para a nossa saúde, enquanto a qualidade das nossas amizades assume-se como fator protetor de doença psicológica e física”.

De acordo com a ciência, os amigos melhoram o nosso bem-estar e ajudam-nos a viver durante mais tempo e com mais qualidade. Irene S. Levine, psicóloga e professora de psiquiatria na Escola de Medicina de Nova Iorque, nos Estados Unidos, e criadora do The Friendship Blog, afirma que “uma série de estudos tem mostrado que os amigos são vitais para a nossa saúde física e para o bem-estar emocional. Eles fornecem um apoio intangível para fazer da vida algo muito mais agradável”. Em contrapartida, quem não tem amigos está mais propenso a sofrer de depressão, insónia, perda de capacidade cognitiva, Alzheimer e doenças do coração, entre outros problemas.

Melhor estado geral de saúde

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A ciência comprova que as emoções e os sentimentos que uma amizade gera no organismo são capazes de melhorar o sistema imunológico, proporcionando sensações de prazer e bem-estar. Segundo investigações realizadas na Austrália, foram constatados benefícios práticos em casos de doenças cardiovasculares e pressão arterial alta, além de melhorias no humor e na autoestima.

Comprovou-se, também, que as pessoas mais idosas com um amplo círculo de amigos apresentaram melhor saúde cerebral relativamente aos idosos mais solitários e que estes mostram maiores probabilidades de vir a sofrer de doenças do coração, sendo igualmente mais propensos a contrair gripes e constipações.

E os benefícios a longo prazo são ainda maiores. Os estudiosos de Harvard, nos Estados Unidos, concluíram, em 2010, que fortes laços de amizade, além de ajudarem a reduzir os sintomas de depressão, mantêm a saúde cerebral à medida que envelhecemos. “A interação social estimula as ligações neuronais, bem como inúmeros processos cognitivos, mantendo o cérebro mais em forma”, revela a psicóloga.

A presença de amigos é ainda um ótimo aliado para ultrapassarmos os problemas de saúde. Dizem os estudos que a presença de um amigo íntimo é meio caminho andado para a dor ser menor, o que, por si só, ajuda no tratamento e na recuperação.

Menos stress e mais otimismo no dia a dia

A felicidade é contagiante, acrescenta um estudo de uma universidade da Califórnia e da Universidade de Harvard, nos EUA, ao comprovar que o facto de sorrir mais para a vida aumenta quando convivemos com pessoas alegres e nos rodeamos de positivismo. De acordo com os investigadores, que analisaram cinco mil pessoas durante duas décadas, essa probabilidade cresceu até 60% nos participantes que conviviam com pessoas alegres.

Além disso, os melhores amigos têm ainda o ‘dom’ de aumentar a libertação de oxitocina, a hormona do bem-estar, ajudando a reduzir os níveis de stress.

A partilha e o contacto com outros favorecem maiores níveis de esperança e ajudam a uma melhor gestão das nossas emoções. Como Filipa Jardim da Silva explica, “quando ouvimos as experiências de outros e contamos as nossas, promove-se a naturalização de vivências e o melhor processamento de situações desafiantes”. Segundo a psicóloga, “as estratégias usadas por outros inspiram a que possamos também ultrapassar as nossas dificuldades. Ao mesmo tempo, os obstáculos com que outros se confrontaram dão-nos a sensação de que não estamos sozinhos na dor”. Desta forma, quanto melhores forem as relações de amizade, mais fortes nos tornamos emocionalmente, uma vez que encontramos apoio para superar as adversidades.

Físico em forma!

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Os benefícios das amizades verdadeiras não terminam aqui. Quer emagrecer? Convide um amigo para jantar. Assim, consumirá maior quantidade de fruta, verduras, cálcio e fibra, segundo afirma um trabalho da Universidade do Minnesota, nos EUA, publicado pela revista da Associação Dietética Americana. Pelo contrário, as pessoas que enfrentam a mesa de forma solitária costumam ingerir maior quantidade de refrigerantes e de gorduras.

Ter amigos ajuda-nos a sermos pessoas ativas, a evitar problemas relacionados com a depressão e o sedentarismo. Os amigos motivam-nos a sair do sofá, a praticar exercício físico, a manter a boa forma, e aumentam ainda em 50% a probabilidade de ter uma vida mais longa. Pelo menos é o que diz uma meta-análise da Universidade Brigham Young, nos Estados Unidos, que analisou 148 estudos realizados durante sete anos e meio. Por isso, valorize e preserve as suas amizades. A sua saúde agradece!

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