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(silêncio, que se vai sentir)

Crónica de Pedro Chagas Freitas

1.

Sou um absurdo coerente, na melhor das hipóteses – a vida, coitada, também o poderá ser, nos seus melhores dias.
O pensamento serve para organizar e para desorganizar, dependendo do que lhe mostramos.
Somos observadores parciais não porque vemos tendenciosamente mas apenas porque vemos em parte, é em parte por isso que conseguimos subsistir.

2.

A luz só ilumina se for ténue; a luz total, todos o sabemos, cega. Procurar a plenitude é preferir ver tudo da parte que, dentro do que nos é permitido ver, nos é possível sentir. Os sentidos, ironicamente, servem para travar o que sentimos, para nos fazer esquecer o que não tem sentido.
No momento do orgasmo somos todos optimistas.

3.

Há quem sonhe com o que pode viver; há quem sonhe com o que não pode viver; e há, claro, quem sonhe para viver. Houve, um dia, um homem que, reza a lenda, alcançou todos os seus sonhos.
Foi pena ter acordado logo a seguir.

4.

Somos acima de tudo aquilo que criamos. O homem não criou o céu mas criou os muros, entendes onde quero chegar?
Mas, mais ainda do que aquilo que criamos, somos aquilo que fazemos com aquilo que criamos. O homem criou os muros, é certo – mas há quem os use para se esconder atrás deles e há quem os suba para ver mais longe, entendes onde quero chegar?
A culpa nunca é do criador; é do usuário – usa isto como bem entenderes.

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