Visitas a recém-nascido, sim ou não?

Visitas a recém-nascido, sim ou não?

Visitar ou não visitar um bebé na maternidade? Este é o eterno dilema de quem recebe um novo elemento na família. Conheça a opinião do pediatra Mário Cordeiro sobre este tema.

Vou ser pai pela primeira vez daqui a um mês e algumas dúvidas têm surgido com tudo o que se aproxima. Uma delas é como gerir as visitas quando a minha mulher e o bebé forem para casa? Segundo conheço os meus familiares e amigos, sei que vai ser uma “peregrinação” de pessoas a quererem ir-nos visitar. Mas acho que essa confusão pode não ser boa quer para o bebé, quer para nós enquanto família. O que devemos fazer?

O momento do nascimento é um acontecimento irrepetível e íntimo dos pais e do bebé, mesmo que rodeado de técnicos. É preciso que os pais saibam isto e não deixem invadir este seu espaço, nem que alguém substitua as suas funções, direitos, deveres e emoções. O que é, devo acrescentar, “politicamente” complicado, requer diplomacia e até, quantas vezes, assumir conflitos e desagrado.

Desculpem ser tão taxativo, mas é assunto em que cada vez mais creio não haver lugar para dúvidas: as visitas não são, regra geral, um acontecimento positivo nos primeiros dias, digamos mesmo semanas, na vida dos pais e do bebé. Designadamente quando existem outros filhos.

As visitas “atacam” por diversas razões, umas melhores, outras menos boas. Numa altura em que o cansaço físico é muito, em que o espírito está noutro local e em que a vivência e organização das horas são aleatórias, a presença de pessoas que “ficam cinco minutos”, mas acabam por demorar a tarde inteira, encontrando outros e conversando sobre os tempos da escola, política ou futebol, é arrasador. Como arrasador é garantir que há cadeiras para todos, chás e laranjadas, e ainda algo para mordiscar.

Sem pôr em causa toda a amizade e boa vontade que está subjacente ao ato de visitar quem acabou de ter um filho, há efeitos colaterais que não são displicentes e convém ter em conta. Cada casal decidirá o que deseja, quer e aceita, mas é bom que também saiba o que está em causa.

O momento do nascimento é um momento particularmente íntimo e privado. Quer isto dizer que há um timing certo para o partilhar. Os primeiros dias (incluindo a estada na maternidade ou hospital) têm de ser de uma enorme contemplação e “solidão”. Há que gerir o tempo com a sua própria dinâmica, não estando dependente das entradas e saídas de terceiros. A própria perplexidade (quase incredulidade) dos pais tem de ser sentida na sua “nuvem”. A paixão pelo bebé expressa-se em contemplação, que é uma atitude relacional única, bidirecional e não pode ser interrompida, sob pena de não se conseguir retomar ou reiniciar, com aumento de agressividade e sensação de stress, o que, por exemplo, vai provocar insuficiente saída do leite materno.

*Autor do livro Vou ser Pai, Marcador

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