Letícia, que já foi “Anita” em Além do tempo, novela que passou em Portugal, é bisneta de portugueses, e por isso herdou receitas como bacalhau com couves ou temperos como o azeite. Entre a cozinha, a televisão e a literatura, falamos ainda de… machismo.
As tatuagens do seu braço de direito fazem parte da sua identidade. E infância. Pode falar-nos delas e do que representam?
Passei a maior parte da infância numa propriedade na serra, entre as cidades de Guapimirim e Teresópolis, que o meu pai comprou quando a minha mãe estava grávida de mim. Lá eu era a única criança da casa, por isso, muitas vezes, brincava sozinha pelo quintal, à beira da Cachoeira, pela mata adentro, o que me vez criar uma relação de amizade muito profunda com a natureza à minha volta. Por isso, quando precisei de pensar num tema para as minhas tatuagens no meu braço, não me veio outra coisa à cabeça que os braços das árvores da Mata Atlântica. Todos enfeitados com bromélias, orquídeas e os passarinhos mais lindos e coloridos.
Atriz, cantora e compositora. Como e quando descobriu o talento para estas 3 paixões que concilia?
A minha mãe toca piano e, durante muito tempo, foi artista plástica. Além disso, tanto ela como o meu pai sempre foram apreciadores de música, teatro e artes em geral. Acredito que, também por influência deles, comecei muito cedo, por volta dos 11 anos de idade, a envolver-me e a estudar música e teatro. Também me arrisco nas artes visuais. Acabei de lançar um livro com textos e ilustrações minhas. O livro juntamente com o meu CD ( os dois com o mesmo título “As Cartas de Amor e Saudade”) são um diário intemporal dos primeiros anos após o nascimento do meu filho Ariel.
Ter interpretado Capitu, a mulher livre da obra Dom Casmurro, foi o seu primeiro desafio em tv. O que foi mais desafiante nesta minissérie brasileira adaptada do romance de Machado de Assis?
Acho que, mais do que um desafio, pode ser uma grande responsabilidade dar vida à Capitu, uma personagem tão importante da literatura brasileira. Porém, na prática, foi mesmo um grande prazer estudá-la, construí-la e interpretá-la. Não senti nenhum peso ou medo, pelo contrário. Capitu representa o feminino na sua essência, a natureza que está dentro de nós mulheres. Por isso, para mim, foi uma ótima oportunidade de aprofundar o que sou, nos meus sentimentos e de me divertir.
O que podemos aprender com Capitu?
Com Capitu devemos entender que a natureza feminina é poderosa, fluida e profunda como o mar. Porém, sob o olhar das sociedades machistas, continua sendo julgada, subestimada e oprimida.
Letícia também já foi “Anita” em Além do tempo, novela que passou em Portugal. A propósito desta novela, numa entrevista fala de Roberto e do machismo. Ainda vivemos numa sociedade machista? Isso é visível no trabalho de ator no Brasil?
Sim, todos sabemos que ainda vivemos numa sociedade machista e isto é visível também no mercado de trabalho da dramaturgia. Existe ainda, e muito, uma pressão sobre as mulheres e, principalmente, sobre as atrizes em relação aos padrões de beleza do mercado. Padrões que valorizam a mulher somente como objeto de posse e de desejo masculino, ou seja, muito jovem e disponível. Assim, atrizes com mais de 40 anos têm muito mais dificuldade em conseguir papéis na TV ou no cinema do que os seus colegas (homens) atores da mesma idade. Atrizes mães precisam, muitas vezes, de esconder as mudanças no seu corpo após uma gravidez. São quase sempre criticadas numa foto de biquíni onde aparecem características que são naturais para o corpo de uma mulher… Esses são só alguns de muitos exemplos.
Portugal: é descendente de portugueses? O que conhece de Portugal e o que gostaria de conhecer?
Os meus bisavós maternos eram portugueses, de Coimbra. Estive em Portugal há pouco tempo pela primeira vez. Conheci Lisboa e Sintra. Voltei para casa com vontade de ficar por muuuito mais tempo! Que coisa mais linda os museus, as livrarias, os trens, as ruas … Ainda quero conhecer muito mais de Portugal.
Além de cantora, atriz, ouvimos dizer que é uma ótima cozinheira. Pode partilhar-nos a sua melhor receita?
Gosto muito de cozinhar e acho que um dos pratos que preparo muito bem são os peixes de água doce. Gosto de fazer um surubim enrolado em folha de bananeira e assado no fogo acompanhado de bananas da terra assadas também. Também gosto muito de fazer files de peixe no leite de coco.
E receitas portuguesas, conhece? Alguma que goste especialmente? Ou que faça na sua cozinha?
Bom, recebi algumas heranças da parte portuguesa da minha família. Uma delas foi a receita do bacalhau com batatas e couve. Adoro e sei preparar muito bem também. Outra herança é que não sei comer sem um bom azeite. A última é a sangria, adoro sangria! A minha mãe costumava preparar para mim. Fora essas receitas que preparamos em casa, eu sou uma apaixonada por toda a culinária portuguesa!
Próxima visita a Portugal?
Espero voltar em breve para ficar por um bom tempo! Adoraria fazer uma novela em Portugal.