Cena de racismo num voo da Ryanair. Críticas à Companhia que optou por mudar a idosa de lugar em vez do agressor.
O homem já foi identificado, chama-se David Mesher, tem 75 anos, e é reformado, tendo sido trabalhador ferroviário em Londres. Tudo estava calmo no voo de embarque da companhia Ryanair, um voo de Barcelona com destino a Londres, quando este homem começou a falar de forma agressiva com Delsie Gayle, uma passageira negra que estava sentada ao seu lado.
Este homem empurrou e insultou a passageira, dizendo: “Não quero sentar-me ao pé da tua cara feia”. O agressor gritou ainda: “sai da frente”, “mexe os pés” e “não devias estar aqui sentada”. Delsie, que sofre de artrite, terá apresentado dificuldade em mover-se no avião para dar passagem ao britânico.
Um passageiro, David Lawrence, filmou o vídeo, que rapidamente correu a internet, lançando a discussão: além do protagonista deste episódio de racismo, têm sido dirigidas duras críticas ao comportamento da companhia aérea, que trocou a idosa de lugar e manteve o britânico no seu lugar, à janela.
Os insultos duraram vários minutos e a situação foi reportada à polícia, tendo sido o agressor já interrogado. À ITV News, a idosa declarou ter ficado deprimida com o sucedido: “Ia para a cama pensar: ‘O que é que eu fiz?’ Mas não fiz nada para ele me atacar por causa da cor da minha pele.”
Segundo o Alto Comissariado para as Migrações, “a reação dos passageiros e as reações nas redes sociais demonstram que, a par da legislação, a sociedade genericamente reprova condutas desta natureza.”
A Comissão para a Igualdade e Contra a Discriminação Racial (CICDR), que funciona junto do Alto Comissariado para as Migrações, I.P., é o órgão em Portugal que tem por missão prevenir e combater práticas discriminatórias em razão da origem racial e étnica, cor, nacionalidade, ascendência e território (segundo a Lei n.º 93/2017, de 23 de agosto, sendo a respetiva competência delimitada pelo território).
Durante o ano de 2017, foram recebidas em Portugal, pela CICDR, 179 queixas, denúncias e participações, verificando-se um aumento na ordem dos 50% por relação ao ano anterior, o que segundo o Relatório da entidade, evidencia “uma maior consciencialização para
a problemática da discriminação racial e étnica e um maior conhecimento dos mecanismos ao dispor das
alegadas vítimas.”
Qual deveria ter sido o comportamento da tripulação da Ryanair?
De acordo com o Alto Comissariado para as Migrações, “os episódios suscetíveis de configurar práticas discriminatórias, devem ser reportados às autoridades competentes para aplicar a legislação de combate à discriminação, existente em todos os países da EU, exigência que decorre diretamente da Diretiva 2000/43 do Conselho., transposta por Portugal em 2004.
Consideramos que seria útil que as companhias aéreas tenham, regulamentos sobre a forma de reagir a situações desta natureza, bem como incluir informação da não aceitação de atos semelhantes e respetivas consequências nas informações prestadas aos consumidores no ato de compra dos bilhetes de avião.
Por outro lado, as empresas devem dotar os respetivos recursos humanos de formação adequada, por forma estarem habilitados a reagir preventiva e adequadamente em eventuais futuros contactos com situações semelhantes, bem como sensibilizar os seus funcionários para identificarem este tipo de situações.”
O Alto Comissariado aproveita para recordar um vídeo, disponível aqui, que pode ser um exemplo de resposta a situações similares.
Este vídeo foi divulgado em 1998, pela Comissão Nacional para a Comemoração do 50.º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos e para a Celebração da Década das Nações Unidas para a Educação em Matéria de Direitos Humanos (Resolução do Conselho de Ministros nº. 47/98, publicada no Diário da República, 1.ª série-B, n.º 87 – XIV Governo — António Guterres).