Crónica de Magda Fernandes
Mulher, Mãe, Advogada. De bem com a vida.
Nas redes sociais do Inem, na fotografia do bebé que foi resgatado de um caixote do lixo, alguém escreveu ‘Bem vindo, puto’. Bem vindo puto! Já te batizaram de Salvador. Bem vindo a um mundo que felizmente pode ser melhor do que a mãe que te pariu. Vais ver que é melhor. Vais passar pela privação de mãe biológica (se é que se pode chamar a essa senhora mãe) mas pelo mimo de quem te recolhe e educa. Puto, nem tudo é mau. A tua sorte: estás vivo. A tua sorte: és um herói. A tua sorte: não foste deixado à sorte. O azar dos teus criadores: não dormirão nunca de consciência tranquila. A nossa sorte: ainda há quem salve e quem eduque e quem saiba amar. Bem vindo Salvador. Estas histórias estão sempre a acontecer. Se não é em caixotes do lixo, é nas escadas de um recanto qualquer. O que leva uma mãe a abandonar uma cria nestes moldes? O que lhe passa pela cabeça? Há perdão para um ato grotesco destes? Pode esta mãe estar bem? Centenas de questões. Eu sou mãe. A simples ideia de deixar um ser indefeso dentro de um caixote enoja-me, repugna-me. Agora pensemos: o que isto nos diz? Que nota nos dá quanto à sociedade atual? Pois eu acho que isto diz muito. Que estamos cada vez mais cruéis. Se isto é fruto de uma falta de estrutura familiar, do uso de drogas, de uma depressão, de completa falta de apoio, de coação, não sei. Mas há mais casos para além dos que sabemos. E isto diz-nos que a sociedade está podre. Enquanto uma jovem de 22 anos não vê alternativas senão colocar um recém nascido no lixo, algo de muito mal tem a jovem, e a sociedade em que se insere. De que eventualmente somos todos responsáveis. Nenhuma desculpa para a jovem, mas nenhum ‘lavar de mãos’ para nós.