Mães em ação

Mães em Ação

Crónica de Ana, mãe de S., uma criança especial
Ana, Mãe de Bem com a Vida

Quando a minha filha mais nova está internada por algum motivo, dou por mim a pensar nas mães sem alguém que as apoie nesses momentos. Um pai, uma avó, uma tia, uma amiga, que acompanhe a criança durante uns momentos para que a mãe tome uma refeição ou um café, vá a casa tomar um banho ou passar um bocado com outro filho, ou simplesmente descansar um bocadinho. Há crianças que, devido a doença crónica, tratamentos ou cirurgias, submetem-se a internamentos recorrentes ou de longa duração. O apoio de familiares e amigos nesses momentos é fundamental.

Mas, surpreendentemente, nessas ocasiões, nunca pensei que há crianças que nem sequer têm um familiar (mãe, pai, avós, tios, etc.) que os acompanhe nesses momentos porque estão “sozinhos” no mundo. São crianças que, por serem órfãs ou vítimas de abusos ou de maltratos, estão sob a tutela do Estado e encontram-se em instituições de menores em regime de acolhimento ou de internamento com vista a futura adopção. E foi a pensar nessas crianças que surgiu em Espanha a “Mães em ação” (“Madres en acción”).

“Mães em ação” é, assim, o nome de uma associação de voluntários que nasceu com o objetivo de acompanhar essas crianças que não têm pais ou familiares que as acompanhem quando estão internadas.

Há que ter em conta que em Espanha existem mais de 43 000 crianças que não têm pais ou que não podem viver com eles por motivos de abusos ou de maltratos e que residem em centros de proteção de menores. Além disso, de acordo com dados fornecidos pelo Ministério do Interior de Espanha, em cada 84 minutos um menor sofre algum tipo de maltrato. Quando isso acontece e o menor tem de ser internado, é normalmente isolado do seu ambiente para evitar que haja manipulação de provas ou acesso a dados médicos relevantes.

Além disso, o fator pobreza também tem um peso importante nos menores que se encontram sem acompanhante no hospital. Muitas vezes os pais não se podem permitir a faltar ao emprego ou a renunciar a trabalhar com a consequente falta de rendimento que isso implica, para poder estar no hospital todo o tempo necessário.

Foi assim que, em 2013, em Valência, surgiu um pequeno grupo de 20 mães com o objetivo de acompanhar essas crianças para que estas, “além de estarem doentes não estivessem sós”. Hoje são mais de 1000 os voluntários que acompanham crianças internadas em hospitais de Valência e de Madrid.

Os benefícios da intervenção destes voluntários vão além de uma simples ajuda na recuperação destas crianças. De acordo com o Dr. Minguez, Chefe da Área del Niño hospitalizado do Hospital La Fe de Valencia, as crianças acompanhadas pelas “Mães em ação” recuperam-se melhor, as que são vítimas de maltratos não desenvolvem os padrões de agressividade ligados à agressão sofrida graças ao carinho recebido no processo de recuperação, e, finalmente, o trabalho dos voluntários facilita o trabalho do pessoal médico e dos profissionais de saúde.

Atualmente, o âmbito de atuação da “Mães em ação” já não se limita ao acompanhamento hospitalar mas também celebra festas de aniversário (por incrível que nos possa parecer, há crianças com 12 anos que não sabiam que tinham que soprar para apagar as velas do seu bolo!); armazenam produtos de primeira necessidade para distribuir; trabalham para que no Natal nenhuma criança fique sem receber um presente; e, têm redes de apoio a crianças que se aproximam dos 18 anos para orientá-los para a vida adulta.

Para ser voluntário há alguns requisitos, mas ser mãe não é um deles. Afinal, tudo o que precisas de saber é tão simples como dar carinho!

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