No dia 16 abril, recebi pela primeira vez, no meu sofá, o Mário Moreira e a Fátima Silva, pais de Sara Moreira. Uma jovem, do concelho de Paredes, que deu entrada 11 vezes no serviço de Urgência do Hospital Padre Américo, em Penafiel. Onze vezes, leu bem. A jovem queixava-se de dores de cabeça.
Das onze vezes que se deslocou às urgências, a família recebeu onze diagnósticos iguais: quadro de ansiedade. Nunca a Sara foi submetida a exames complementares de diagnóstico que pudessem dar pistas para a causa da sua morte, em 2013, dois dias após a última visita às urgências. A autópsia revelou um tumor alojado na cabeça com 1,670 quilogramas.
O que resta a uns pais que perdem uma filha? Justiça. O casal, que por debaixo da sua indignação, tocou-me pela genuína humildade, avançou para tribunal.
Acompanhámos o caso. Os quatro médicos foram absolvidos na primeira instância, e agora, mais recentemente, também pela Relação. Comprovou-se o falhanço no diagnóstico, mas também o facto de os médicos não terem tido a intenção de colocar em risco a saúde e a vida da doente.
Tudo, neste caso, dá-nos muito que pensar. Estamos a falar de medicina, nos constantes progressos e avanços, nos quais depositamos a nossa fé e a nossa esperança em situações de socorro. Cada caso é um caso, sabemos. Mas este faz-nos colocar em causa, muito daquilo que temos por seguro, por certo. Nunca conheci a Sara. Mas também nunca a esquecerei.
Pode rever aqui o programa:
https://sic.pt/Programas/julia/episodios/2020-02-26-Julia—26-de-fevereiro—parte-2—Follow-up-Jovem-de-19-anos-morre-sem-diagnostico-apos-3-anos-de-sofrimento