Há dias, quando escrevemos aqui sobre a explosão de divórcios no pós-confinamento, recebi o comentário discordante de uma senhora: “Para mim o confinamento, uniu-nos ainda mais”. Chama-se Mara e decidi contactá-la. Pedi que me explicasse o sentido da sua opinião. Nestas coisas, eu tenho olfato canino. Sou que nem um sabujo. Consigo cheirar uma história de amor a léguas.
“Com uma empresa de transportes que opera a nível internacional, as viagens são muitas. O meu marido está muitas vezes em viagem e o tempo que estamos juntos é sempre pouco e precioso. Estamos casados há 32 anos. Eu tinha 16 anos quando começámos a namorar e 19 quando engravidei do nosso único filho. Há quem diga que, passados tantos anos, isto já não é amor. Mas é. Isto ainda é amor. Ele viaja pelo mundo inteiro, para estabelecer negócios, mas durante o período de confinamento, estivemos sempre em casa, nesta cidade fantasma que parecia o Porto. O meu filho também esteve connosco, mas em teletrabalho.
Durante esse período, conversámos muito os dois, fizemos jogos de tabuleiro, jogámos futebol e voleibol, a modalidade dos tempos da minha juventude. Ele cozinhou sempre. Nunca me preocupei com a cozinha. Foi tão bom. Não fosse a pandemia, teria sido perfeito. Adaptámo-nos muito bem. Fazíamos tudo com muita serenidade. E tempo. Por isso, custa-me a crer que o confinamento tenha desencadeado os divórcios. Não foi o confinamento. O confinamento uniu-nos ainda mais. O meu marido acabou de partir em viagem, faz três dias. E já estamos cheios de saudades um do outro.”
Obrigada Mara. Que bonito.