A minha mãe teve cinco filhos. Eu tenho um. Por Leonor Poeiras

Não há cursos que nos ensinem a sermos boas mães, mas se houvesse a minha mãe seria certamente a melhor aluna. A minha mãe era afetuosa, atenta a cada uma das suas cinco crias, todas tão diferentes. O que mais me ensinou, sem saber que estava a ensinar, foi sobre os afetos.

Com tantos filhos, professora em duas escolas diferentes, não havia muito tempo livre… por isso, em muitos dos afazeres que tinha para cumprir, levava-nos com ela. Mas sempre soube “dividir-nos” bem. E isto é saber gerir afetos. Um exemplo: aos sábados de manhã, religiosamente às 8h30, a minha mãe tinha marcação no cabeleireiro. E esse era o meu momento com ela. Era a mim que levava. Eu adorava. Mexia em tudo, brincava aos cabeleireiros, penteava-me, enchia-me de laca, enfim… adorava! E, desde que eu não estorvasse muito, ela acompanhava sorridente durante os vinte minutos em que tinha de ficar imóvel, com a cabeça dentro de um daqueles típicos e cómicos secadores dos anos oitenta, com aspeto de capacete.

No fim dos penteados feitos, voltávamos a casa para apanhar mais duas irmãs, que já teriam acordado, e seguíamos para a Baixa de Lisboa, onde até à hora de almoço havia tempo de tomar um café numa esplanada, passear, ver montras, muitas montras, correr pela Rua Augusta, entrar na Pollux, descer à loja dos tecidos e à retrosaria da Rua da Conceição − onde duas vezes por ano comprava alguns tecidos para os nossos vestidos de verão e de inverno (não havia as lojas de roupa que há hoje) e algumas lãs para nos fazer camisolas −, e aqui deixava-nos escolher as cores.

Rotinas cheias de banalidade, mas a transbordar de amor, de tempo de qualidade. Estas memórias, por mais banais que sejam, são muito bonitas. A minha mãe esteve muito presente na minha infância. Na infância dos cinco filhos, aliás. Conseguiu! Mães são uma fortaleza que, por mais que abale, se aguenta! É por isso que este texto é sobre ela, porque me deu todo o amor que agora tenho para dar. Quem me dera um dia ser a mãe que ela foi para nós os cinco.

Pelo terceiro ano consecutivo, dou a cara por uma Campanha de Sensibilização para os Maus-Tratos e Negligência na Infância. A mensagem deste ano é ‘Estarmos Juntos Faz-nos Crescer’.

E estarmos juntos é isto! Mesmo sem tempo que chegue, podemos pegar nos nossos miúdos, tirá-los da frente das consolas e da televisão e levá-los connosco à praça, ao talho, ao cabeleireiro. Nem sempre conseguimos ir ao parque brincar, nem sempre temos tempo de agarrar nos legos antes de jantar e passar meia hora a brincar com os nossos filhos, mas o tempo é o que temos de mais valioso para oferecer. As mães sabem. E a minha mãe sabia, porque o deu todo.

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