NO BRA, NO PROBLEM

Para umas, é uma peça sensual. Para outras, é uma ditadura.

E para um novo grupo de mulheres, deixou simplesmente de existir. O soutien está a ficar démodé?

No passado dia 3 de outubro, durante a apresentação do filme Certain Woman, nos EUA, as atenções dos media concentraram-se em Kristen Stewart. A atriz surgiu com um penteado arrojado e um casaco bordeaux, aberto, e sem soutien por baixo, assegura a imprensa e comprovam as fotos publicadas sobre a antestreia. Kristen não é a única estrela a dispensar esta peça de vestuário e marca uma tendência que, além de moda, traduz um comportamento.

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Patenteada nos Estados Unidos por Mary Phelps Jacob, o soutien nasceu em 1914, tornando-se um símbolo feminino de conforto, mas também de sensualidade.

Tudo começou com um gesto de rebeldia: Jacob revoltou-se contra o espartilho que a apertava e que deixava as mulheres à beira de um constante desfalecimento por não conseguirem respirar. Auxiliada então pela sua empregada, fez o primeiro protótipo de soutien e para tal usou dois lenços, uma fita cor-de-rosa e um cordão. Fez cópias para as amigas, mas também resolveu comercializar o que acabara de descobrir. Começava assim a história do soutien, que até hoje tem protagonizado momentos importantes.

 

Bra Burning: recorda-se?

 

Em português, chama-se a queima dos soutiens. Deu-se a 7 de setembro de 1968 em Atlantic City, nos EUA, mas na verdade a queima efetiva nem chegou a acontecer. O protesto, com cerca de 400 ativistas do WLM (Women’s Liberation Movement), ocorreu durante a realização do concurso de Miss América. O objetivo era acabar com a exploração comercial realizada às mulheres. Consideravam que o concurso de beleza Miss América era uma opressão e assim colocaram no chão, em caixotes, os freedom trash can, ou seja, soutiens, sapatos de salto alto, maquilhagem, revistas, espartilhos, cintas, entre outros elementos que simbolizavam a beleza (para elas, tortura) feminina. Muitas destas mulheres foram tratadas como loucas e descontroladas, apelidadas de bra-burners.

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Mas, e se o soutien não for assim tão confortável? Há quem acredite que o corpo fica mais bonito quando não o prendemos estrategicamente no lugar e que as formas naturais são bem-vindas. As mulheres podem respirar fundo (sem um soutien que as impeça), porque há indícios, em estrelas como Kristen, de que a moda passa bem sem este acessório.

Ver-se o peito através de uma cava profunda é agora chamado sideboob e é bonito, tal como uns mamilos pronunciados.

Anne Hathaway, Halle Berry, Mariana Rios, Letícia Spiller e Kendall Jenner são algumas das celebridades que aderiram à moda de não usar soutien. E fazem-no ora na passadeira vermelha, quando usam um decote, ora quando vão ao supermercado de t-shirt.

 

Mas faz bem à saúde?
Em 1995, o livro Dress to Kill alertava que o uso de soutiens apertados ajudava a desenvolver cancro da mama, e foram muitos os mitos que se apareceram em torno do peito feminino. Mas, de acordo com um artigo publicado no jornal Cancer Epidemiology, Biomarkers & Prevention, não há qualquer ligação entre o uso de soutiens e o desenvolvimento de cancro da mama. “O risco de desenvolver esta doença é exatamente o mesmo independentemente do número de horas que uma mulher usa um soutien, do tipo de soutien que usa, ou da idade com que começa a usá-lo”, explica Lu Chen, investigadora do Public Health Sciences Division do Fred Hutchinson Cancer Research Center.

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Movimentos sem soutien
No Bra, No Problem ou a hashtag #freethenipple tomam conta das redes sociais. Sem soutien, pela liberdade de escolha sobre o próprio corpo.

O movimento Free the Nipple, nos Estados Unidos, vê a peça inventada por Mary Phelps Jacob como uma imposição social e alerta para a forma como os mamilos femininos causam choque, polémica e horror, principalmente nas redes sociais, enquanto o mamilo masculino é tido como algo perfeitamente banal. Posto isto, pedem que se publiquem nas redes sociais imagens em topless, mas que se troque (em Photoshop) o mamilo feminino por um de homem. O movimento teve início em dezembro de 2013, com o apoio de Miley Cyrus, mas logo de seguida juntaram-se outras apoiantes, como Lena Dunham, Rihanna, Cara Delevingne e Liv Tyler. “Free The Nipple é sobre homens e mulheres que se unem em prol da igualdade. Há mais de 100 anos, era ilegal e obsceno mostrar os tornozelos, um dia vamos olhar para os mamilos da mesma maneira”, diz Lina Esco, realizadora do filme Free the Nipple.

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Em maio deste ano, o assunto do soutien voltou à baila e, desta vez, com ele veio o body shaming. “Não te esqueceste de nada hoje? Temos de falar sobre esse teu vestuário inapropriado”, disse o diretor de uma escola do Montana a uma das duas estudantes enquanto esta passava no corredor. Calças de ganga e t-shirt preta não pareceram um outfit ofensivo a Kaitlyn. “Estás a usar soutien?”, ouviu ela. É obrigatório?

Por Marta Amorim

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