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Maria Shneider desconhecia a cena de violação em O Último Tango em Paris. Foi danificada e molestada.

A estranha trajetória de uma atriz chamada Maria Scheneider sempre me despertou uma enorme curiosidade.

Um rosto de anjo confuso num filme chamado “O Último tango em Paris” comovia-me numa longa metragem que nunca consegui ver até ao fim, por sempre a ter achado claustrofóbica e aflitiva.

Nunca fui tocada pela temperatura erótica deste clássico do cinema, um mito cinematográfico que fui impedida de espreitar até à idade adulta. E depois espreitei… e não fiquei muito tempo a espreitar. Aviso já que não sou uma puritana, que nao me impressiono com a nudez, o sexo é uma dimensão humana importantíssima e a maior parte das vezes não é retratado com verdade. Mas existiu sempre neste filme qualquer coisa que me incomodava. Uma rejeição sem sentido, porque não era para mim decifrável.

Já tive o mesmo sentimento com outros filmes que versavam matérias diferentes.

Saí do cinema quando se estreou o “Apocalipse Now” do Coppola e não consigo assistir a mais filmes sobre o Holocausto. As imagens são tão poderosas… O Último Tango nunca foi um filme sobre sexo obsessivo. Era outra coisa. Actriz que contracenava com Marlon Brando tentou por várias vezes revelar o que realmente tinha acontecido naquele plateau. E ninguém acreditou nela… Nunca teve uma carreira sólida, apagou-se no esquecimento e morreu prematuramente . Faleceu aos 57 anos, com uma mágoa, finalmente revelada ao mundo.

Foi violada por Marlon Brando em pleno plateau, numa combinaçao secreta entre o actor e o realizador Bernardo Bertolluci.

Uma barbaridade cometetida em nome da Arte, um ato de enorme cobardia perpetrada por dois homens séniores da indústria sobre uma miúda de 19 anos. Para a posteridade ficou a ideia de que um pacote de manteiga podia contribuir para efectuar um momento de sexo anal. Na verdade vemos uma mulher a ser violada.

Quase quarenta anos depois, o realizador, creio que num derradeiro ato de vaidade criativa, confessou numa entrevista para a Cinamateca Francesa, que preferia o horror puro à interpretação de um jogo sexual nunca antes jogado pelos dois protagonistas. A arte deve ser crua, mas não pode ser descarnada e despojar quem arrisca, da sua dimensão humana. A Arte deve imitar a vida… quem acredita no contrário pode queimar-se no jogo do real e da verdade crua. Maria Shneider percebe-se hoje, teve o destino de grande parte das vitimas de uma violência sexual. Foi uma vítima, danificada e molestada… Um sopro suave na grande fogueira dos egos de um negócio milionário…

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