Ju Lopes: A virada do ano

A virada do ano é simbólica: ela mostra que, não importa o que aconteça, podemos recomeçar sempre.

E para isso nos preparamos, limpamos a casa e a alma para receber o ano novo, a vida nova.

Primeiro, fazemos um balanço de tudo o que foi vivido até aqui, do que ainda vale a pena e do que não serve mais, e isso vale pra (quase) tudo: pessoas, situações, sentimentos, roupas e objetos. Tiramos da vida, por dentro e por fora, tudo o que sufoca, que limita, que trava o riso, que nos impede de caminhar. Deixamos de fora tudo aquilo que não cabe mais, que não queremos mais.

Fazer isso é muito simbólico, e também libertador, porque manter o que não nos serve mais é uma das coisas mais sufocantes e paralisantes da vida.

Se alguém nos fez mal, essa é a hora de perdoar, de tirar essa pedra do caminho, esse veneno do coração. É hora de se perdoar também, porque se você não se perdoar, vai passar a vida presa no que já passou, no que você não pode mudar. Sem isso não tem como ter leveza, não tem como ter beleza, não tem como a vida florir. E, afinal, não é isso que a gente quer? Então, a gente limpa tudo, abre espaço, perfuma a casa e prepara a alma para o que está por vir.Com a alma limpa, e a casa também, é hora de se preparar para a virada, descobrir as cores do ano para atrair tudo aquilo que a gente quer e de que precisa, preparar as comidas que trazem sorte e fazer a listinha das superstições de que a gente não abre mão.

Cada cor vibra numa determinada ‘frequência’, então escolhemos roupas e acessórios que tenham as cores da vibração que a gente quer. Esse é o ano do azul hortênsia, mas não custa usar um pouquinho de dourado, que atrai riqueza e prosperidade em todos os níveis, energiza, transmuta e representa a sabedoria e o esplendor.

O azul, nas roupas ou nos acessórios, garante proteção espiritual, otimismo, serenidade, diplomacia e a sensação de que sempre podemos (e devemos) seguir em frente.As roupas não podem apertar, para que o ano não seja ‘de aperto’. Tudo deve ser leve, solto e fluído. Tudo deve proporcionar alegria. Virar o ano entre amigos e família, com as pessoas que a gente ama, na praia ou no campo, é especial. Queremos todas as luzes acesas para que o ano seja de luz, e uma ceia farta e cheia de alimentos que trazem sorte.

Frutas amarelas e alaranjadas, sobretudo redondas, que lembram moedas de ouro, não podem faltar. Uva e romã, para as tradicionais simpatias com os pedidos para o ano novo, também não. Ramos de trigo e folhas de louro na mesa, para simbolizar a fartura, abundância e as vitórias, são sagrados, assim como o peixe da ceia, símbolo de abundância e também de fecundidade. Ah, e não pode faltar arroz, símbolo máximo de abundância, fartura e prosperidade!

Grãos, no geral, são bem-vindos e simbolizam a fartura, a fertilidade e a multiplicação das oportunidades, principalmente a lentilha, que simboliza também a riqueza desde que, diz a lenda, Esaú trocou seus direitos de primogénito pela Megadarra, uma sopa de lentilhas preparada por seu irmão Jacó, tendo ficado muito rico. A ceia é servida com todos juntos agradecendo pelo ano que se encerra e brindando ao ano que está para chegar. Os brindes são muitos, assim como os abraços, beijos e desejo de bênçãos e boa sorte para todos, e, estando no litoral, vale pedir uma força pra Iemanjá!

Pulamos as sete ondas, levamos presentes e pedimos que a força das águas nos proteja e ajude a realizar os desejos do nosso coração. A gente sabe que nada muda se nós não mudarmos, se não dermos o primeiro passo, porque a única mudança possível é a que acontece no interior de cada um de nós, mas não custa pedir uma ajudinha pra rainha do mar, não é? E assim, com o coração cheio de alegria, com fé num futuro melhor, exalando paz e amor, a gente dá boas-vindas para o ano que acaba de chegar, acreditando que teremos sorte, muita sorte, além de coragem para mudar o que precisa ser mudado, força para pagar o preço pelas nossas escolhas e disposição para tornar nossos sonhos possíveis!