amor

Amor? Não, obrigada.

A pressão para encontrar a alma gémea é tanta que há quem baixe os braços e assuma a desistência. A verdade é que prognósticos… só no final do jogo.

Foi um escândalo quando a notícia saiu: uma sondagem no Reino Unido, em julho de 2015, mostrou resultados de que um em cada oito adultos − principalmente mulheres − desistiu de encontrar o amor, incluindo quem estivesse numa relação. 

As principais razões desta desistência são a crença generalizada de que não existe ninguém para a pessoa em questão (46%), a não existência de pessoas novas nos respetivos círculos sociais (45%) ou pressão por não se sentir suficientemente atraente (41%). A sondagem de 2000 pessoas chegou até a revelar que 12 por cento da população pensa que nunca se irá apaixonar.

Há quem considere que a pressão para impressionar e deslumbrar é demasiada. “Lentamente apercebi-me de que, ao longo de nove anos de namoro em Nova Iorque em busca do ‘Tal’, gastei milhares de dólares em Sephora e no cabeleireiro, lutei sem calças em sessões de depilação para que as lágrimas não caíssem, escolhi a impiedosa ‘limpeza profunda de poros’ em vez de escolher o ‘tratamento facial relaxante’, usei collants desgastados em vez de calças térmicas em noites de temperatura zero,” conta Anna Breslaw, jornalista americana, no artigo Desisti do amor aos 27 anos – e devia tê-lo feito antes, publicado na Elle norte-americana. “Eu percebi que, na melhor das hipóteses, não me lembro da maioria dos nomes dos homens destinatários desta produção toda, porque na verdade não duravam mais do que dois encontros.”

“Deixei de me importar,” declara.

Decidi dedicar-me a mim mesma, a mostrar o meu verdadeiro eu.

A jornalista não é a única a aperceber-se da produção necessária e da pressão constante para se estar disponível e pronta para socializar e “fazer-se ao piso”. Chama-se mesmo a “teoria dos saldos”: quando alguma coisa está prontamente e facilmente acessível, espera-se que a pessoa aproveite, pois seria insensato não o fazer ou fazê-lo noutra altura. Quando há facilidade de interação, a pressão recai naquele que hesita em agarrar a oportunidade.

 

Mais feliz sozinho?

Um estudo feito pela Universidade de Auckland, em agosto de 2015, mostrou que as pessoas são cada vez mais felizes enquanto solteiras, e a Escola de Economia de Londres, depois de ter estudado cerca de 50 mil pessoas, encontrou provas de que a maioria se sente mais feliz com amigos do que com os seus parceiros.

Do bom partido ao “mais vale só”

Nos anos 50, 60 e 70, a educação e a pressão social inclinavam-se para a formação da chamada “família nuclear” (um marido, uma mulher, dois filhos, talvez um cão) para um suposto melhor funcionamento na sociedade. Casar-se por amor era o mais desejado mas, no entanto, a sociedade pressionava tanto o género masculino como o feminino para “arranjar um bom partido”.

As prioridades acabaram por mudar nas décadas seguintes. A imagem da família nuclear desaparece e começa a proliferação dos divórcios. Madonna lança Express Yourself  em 1989 e canta  “Don’t go for second best baby / Put your love to the test you know, you know you’ve got to / Make him express how he feels and maybe / Then you’ll know your love is real” e desafia cada um a procurar algo melhor, não se limitando às imposições da sociedade. Por outras palavras, desafia a seguir o coração. O romantismo exacerbado ainda é comum nos media e a pressão para encontrar a “alma gémea” persiste. Mas há desistências pelo meio.

Primeiro gostar de mim

A psicóloga Linda Papadopoulos afirmou ao Daily Mail: “Até um certo ponto, dizer que se desistiu do amor pode ser um mecanismo de autodefesa. [Parte do princípio de que] se desistir, então não ficará desapontado se o amor nunca aparecer.”

No entanto, avisa, “as pessoas precisam de ter consciência de que predisposições como estas podem sempre levar a um círculo vicioso. As nossas expectativas negativas impedem-nos de procurar amor, e o otimismo funciona. A realidade é que é muito mais provável que faça uma ligação significativa com outro se acreditar na possibilidade de que isso aconteça.”

“As relações levam igualmente tempo, compromisso e disposição, pelo que nunca nos devemos sentir obrigados a encontrar alguém para nos completar – pelo contrário, deve-se conhecer e aprender a gostar de si mesmo antes de começar a gostar de outra pessoa”, alerta a especialista.

 

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