Amor em tempos de internet

Alessandro criou uma página de acompanhante de luxo e o telefone toca a toda a hora. Por vezes, são mulheres que se apaixonam… Ao contrário dele, que nunca se apaixona, garante. Um testemunho sobre a forma como a cloud afeta os relacionamentos.

 

“Elas apaixonam-se com frequência por mim. Mas eu não me apaixono. Ponto final”
Alessandro, Acompanhante de Luxo

O telemóvel está ligado 24 horas por dia. Mas nem sempre está disponível. No dia em que agendamos a conversa telefónica, conta-nos que esta é a primeira folga em mês e meio. Na véspera, tinha sido acordado às duas e meia da manhã por uma cliente que, na sequência de uma discussão em casa, lhe telefonou a requisitar os seus serviços. A madrugada acabou no bar de um hotel em Lisboa, com uma conversa prolongada e duas bebidas em cima da mesa. O ponto de encontro é frequentemente um hotel. Mas Alessandro garante que não passam da área de restauração. “Os clientes têm as suas exigências: querem alguém com uma boa apresentação, que saiba falar, saiba estar. E eu também imponho as minhas regras: está definido que não há sexo.”

Não há sexo

Não há sexo… mas não por falta de pedidos: “Muitas vezes, há mulheres que sugerem um pagamento adicional para, no final do encontro, terem sexo comigo. E eu explico que o preço já está definido e não inclui essa parte.” Mas pode acontecer: “Afinal de contas, somos dois seres humanos.” Já aconteceu, na verdade: “São apenas 2% dos casos e exclusivamente mulheres”, precisa Alessandro. E a conversa remete-nos para a definição de “acompanhante de luxo”: “Em países como França e Alemanha [onde Alessandro também é requisitado], um acompanhante de luxo é bem entendido e aceite: alguém que presta serviços de companhia. Em Portugal, o nome ainda é confundido com prostituição. São duas coisas bem distintas”, explica. Mas há mais razões para esconder o rosto na sua página de internet: “É uma garantia de confidencialidade para com os meus clientes. Tenho clientes da área da televisão que, por serem conhecidos, são facilmente identificados. Se o meu rosto for conhecido, alguém pode ver-nos juntos e aí quebra-se o sigilo.”

Um amigo para jantares de negócios

A maior parte do seu tempo é passada em jantares de negócios, onde é sempre apresentado como “colega”: “nunca namorado ou marido”. É uma salvaguarda, “quando os grupos se cruzam”. Acompanha mulheres e homens, que requisitam companhia para momentos geralmente tensos. Um destes serviços ronda os 1500 euros. Mas há valores mais baixos para clientes fixos (Alessandro tem clientes de há seis anos). Os orçamentos mais elevados estão associados a férias: “São serviços frequentes – os clientes precisam de companhia. Nestes casos, ficamos em suites com dois quartos, por exemplo.”

São vários os pedidos, e a procura deve-se, segundo Alessandro, a uma realidade quotidiana: “As pessoas não têm paciência para fazerem amigos em discotecas ou noutros eventos.” Mais fácil é ir à internet e ligar um número.

1500 por encontro de 3 horas

Falamos de clientes, regra geral, com uma boa situação económica, o que não dispensa o habitual processo de filtragem: “Além de ter o curso de psicologia, trabalho nesta área desde os 18. Em meia hora, consigo analisar o perfil de quem me contacta.” A triagem, porém, nem sempre corre bem. Quando assim é, volta as costas. Há tempos, fê-lo com uma mulher que se atirou violentamente para os seus braços. Alessandro assegura que recusou ir mais longe. Outras vezes, os jantares consecutivos acabam por misturar as coisas. “Acontece com alguma frequência. Mas, quando me apercebo de que elas estão a apaixonar-se por mim, corto. Rejeito futuros serviços dessa pessoa, por exemplo.” Alessandro tem regras: “Nunca me apaixono. Ponto final. Tive um deslize há anos. Serviu-me de lição.” E na vida real? “Essa é a pergunta que todos me fazem. Há clientes que me fazem essa pergunta há cinco anos.” Alessandro responde a todas as questões lançadas por Júlia – De Bem com a Vida. Embora nunca tenha dado uma entrevista em Portugal (já o fez na Alemanha, uma entrevista a propósito de ser também um ator porno profissional), conta que a senhora com voz sensual de outro lado do telefone lhe inspira confiança. Ainda assim, a pergunta fica no ar. Não revela dados da sua vida pessoal. Faz parte do élan de acompanhante de luxo.

 

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