Afinal o colesterol é nosso amigo?

Parece que sim. E a teoria tem vários defensores. Fui investigar a opinião de médicos e investigadores internacionais que encontram outros culpados nas doenças cardíacas e asseguram que o colesterol é o menor dos nossos problemas.

A ideia de que afinal o colesterol elevado é inofensivo já circula há alguns anos na comunidade científica. Em 2012, no livro O Grande Mito do Colesterol, o coautor e cardiologista norte-americano Stephen Sinatra escreveu que “o colesterol é encontrado na cena do crime para a doença cardíaca, mas não é o criminoso”. Sinatra, que tem mais de 35 anos de prática clínica, nove dos quais como chefe de Cardiologia, tem como uma das suas principais missões “educar as pessoas para a verdadeira causa da doença cardíaca, e não é o colesterol”. Na sua página de internet, Stephen Sinatra conta que “a maioria dos médicos e cardiologistas continua a medir os níveis de colesterol dos seus pacientes e a prescrever estatinas para baixar os valores. Entretanto, a verdadeira causa da doença cardíaca, a inflamação, continua a ser ignorada”.

O grande mito do colesterol

O Grande Mito do Colesterol vem partilhar que, contra factos, poucos argumentos existem. Entre eles: “A relação hipotética entre elevados níveis de colesterol e doença cardíaca nunca foi provada (…); Os níveis de colesterol são um fraco indicador de ataques cardíacos: apenas 50% das vítimas de ataque cardíaco apresentam colesterol elevado, sendo que 50% das pessoas com colesterol elevado não têm doença cardíaca.” Stephen Sinatra não hesita em sugerir que as teorias contra o colesterol elevado têm as farmacêuticas de estatinas por detrás e recorda o resultado de recentes estudos, nos quais o consumo de estatinas está associado a um risco elevado de diabetes, um dos maiores fatores de risco de doença cardíaca.

Viva o colesterol

Mas afinal, se não é o colesterol o culpado pelas artérias obstruídas em caso de doença cardíaca, o que está ele lá a fazer? Beverly Teter é bioquímica na Universidade de Maryland, EUA, e tem a resposta. Segundo explicou Teter à CBS, tudo começa com a inflamação, e é precisamente para proteger e evitar danos maiores que o organismo envia o colesterol para o ‘local do crime’. Mais uma defensora da molécula colesterol: “Venho de uma família que tem, pela parte da minha mãe, colesterol elevado. Os seus níveis de colesterol rondavam os 380 e 420 mg e ela chegou aos 97 anos. Não me parece que o colesterol tenha sido prejudicial para ela”, refere − de recordar que as recomendações europeias indicam como valores normais um colesterol inferior a 190 mg/dl (para a população em geral).

Para Beverly Teter, o colesterol não passa de um mal-entendido. Em declarações à CBS, conta: “Do que poucas pessoas se apercebem hoje é de que o corpo precisa, quer de gordura saturada, quer de colesterol, para regular o metabolismo, a saúde do cérebro (…). Sem estes dois importantes componentes nutricionais, podem surgir problemas como Alzheimer ou Parkinson.”

O cuidado com os ovos passou à história?

Mas o assunto não ficou por aqui e, em 2015, o colesterol voltou a merecer destaque, desta vez na perspetiva do colesterol dos alimentos. Segundo o que foi publicado no relatório norte-americano Dietary Guidelines Advisory Committee, cujos membros contribuem para as Dietary Guidelines − recomendações nutricionais para a população em geral −, “o colesterol não é considerado um nutriente de preocupação em caso de excesso de consumo”. Ou seja, por outras palavras, o colesterol dos alimentos pouco influencia os níveis de colesterol no sangue. O que significa que o cuidado de contar os ovos às refeições pode ter passado à história. Há especialistas que reconhecem o engano e partilham que, afinal de contas, o colesterol é um bem necessário.

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