Casamento: um pedido com ética

Casamento: Um pedido ético…

Junho aproxima-se. Estão a chegar as festas dos Santos. E está praticamente aberta a época oficial dos casamentos e das noivas de Santo António. E por isso vou então dedicar aqui um espaço a histórias de pedidos e casamentos… encantadoras. No mínimo. Ora leia esta e confirme se não tenho razão.

Começamos por um pedido de casamento muito invulgar. Ele era aluno, ela professora. Mas foi tudo feito de forma… surpreendentemente ética. Leia aqui para descobrir o que aconteceu.

Quando a convidou para um chá, a professora universitária respondeu-lhe que não era ético. Myguel Santos e Castro, maestro, 41 anos, teve a certeza de que aquela era a mulher certa. Cumpriu a sua parte. A primeira coisa que fez quando concluiu o curso foi dirigir-se ao gabinete da sua professora e repetir o convite. Hoje estão casados. Têm três filhos em comum.

“No final de 1995, encontrava-me a dar muitas aulas (de música) e sentia-me a stressar. É verdade que também estava a ganhar muito dinheiro. Mas… para quê? Trabalhava das 9h da manhã às 23h praticamente todos os dias. O que iria deixar aos meus filhos? (Na altura estava casado. Casado para a vida. Porque eu entendo que o casamento é para vida.) Iria deixar-lhes euros? Eu queria deixar-lhes algo bem mais importante: tempo. Tomei então uma decisão antes que fosse tarde demais e os sintomas físicos se agravassem: iria deixar de dar aulas. Quando?, perguntou a minha mulher. Agora. Desloquei-me escola a escola e comuniquei a decisão. Passados dois dias, a vida já ganhava outro sabor.

Não tinha acabado o curso

Aproveitei a embalagem e fui à Universidade Técnica. Entrei no ISCSP em 1993, para Gestão e Administração Pública. E sentia-me envergonhado por não ter concluído o curso. “O que preciso de fazer para terminar a licenciatura?”, perguntei na secretaria da faculdade. Era agora o momento. No ano seguinte, entrava em vigor o Tratado de Bolonha e teria de fazer, não 5, mas 15 cadeiras. Bati à porta dos gabinetes de três professores que me foram aconselhados a falar sobre o assunto e quando olhei nos olhos da professora da cadeira Instituições Europeias recordo-me de ter fechado a porta, encostar-me à parede e pensar: “Esta professora é uma brasa.” Mas eu era casado. E, como homem casado, o que há a fazer é afastar-nos das tentações. Mais que uma tentação, na verdade, encarei este momento como um alerta para cuidar mais da relação. Nós não controlamos os nossos sentimentos mas controlamos o que fazemos com eles.

Passado algum tempo, a minha mulher pediu-me o divórcio, na sequência de uma traição… Sempre disse que nunca toleraria uma traição. Mas acabei por voltar para casa. E sair de novo. Devo dizer que já perdi o meu pai, já corri risco de ser amputado de uma perna. Mas nunca sofri tanto como nesta altura.

Chumbou-me?

Decidi que iria canalizar toda esta minha tristeza para a conclusão do curso universitário. Estudei, esforcei-me. E, quando verifiquei a pauta das notas em junho, tinha passado a quase todas as cadeiras. À exceção de Instituições Europeias, disciplina para a qual me tinha fartado de estudar e escrever. A professora A. tinha-me chumbado. “Como era possível?”, perguntei-lhe, com todo o à-vontade, aproveitando um encontro ocasional no bar da universidade.

Ela disponibilizou-se para me mostrar as razões no gabinete. Fiquei inconformado. Faltava-me só esta cadeira, além do trabalho (polémico) de final de curso – Como baixar os salários dos funcionários públicos e mantê-los motivados, orientado pela professora Ana Patrícia, a quem um dia perguntei se a professora A. era casada. Não era casada? Única razão, pensei eu: ainda não conheceu o homem certo. A professora Ana acedeu a mais um pedido: um contacto. E enviei-lhe então uma mensagem, mais outra… Ao que ela respondeu: “O Myguel é meu aluno, eu sou sua professora. Isto não me parece nada ético.” Ética? É uma mulher com ética que eu quero para o resto da minha vida. Ela era a mulher certa.

Licenciado e apaixonado

Esforcei-me e estudei ao máximo. No dia em que vi o 14 na pauta, levei-lhe uma rosa ao gabinete com uma mensagem: “Eu cumpri a minha parte. Agora é a tua vez” (Afinal já éramos colegas, já nos podíamos tratar por tu). Finalmente já seria possível tomar um chá. Não foi assim tão fácil, na verdade. Mas, depois de algumas tentativas frustradas, e já a pensar em desistir, recebo certo dia uma resposta a piscar no Outlook: “Quando quiseres.”

Bebemos chá no CCB. Mas, passados poucos encontros (sem nada acontecer, nem um beijo), disse-lhe que as minhas intenções eram sérias. Lembro-me de lhe ter pedido que escrevêssemos no papel aquilo que de mais sagrado representava para nós e do qual não conseguiríamos abdicar. Recordo-me de ela ter escrito: ter filhos. Ter filhos? Mas eu já tinha 3 filhos… Olhei e repensei. E disse: claro. Faz todo o sentido. Temos atualmente 3 filhos. O mais sagrado para mim era: viver em Cascais. Queria estar perto dos meus filhos. Sou um pai presente. Gosto de ir buscá-los à escola. Foi nesta sequência que lhe perguntei: queres namorar comigo? E demos o nosso primeiro beijo. Casámos. Foi um casamento civil, sem festa, e, sendo ambos católicos, custou-nos o facto de deixar de comungar na missa. Mais tarde, pedimos a anulação do meu matrimónio, um processo que chegou a ir ao Papa Francisco. Há três anos, voltámos a casar. Pela Igreja.

 

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