Mau hálito é sinónimo de doença?

Mau hálito é sinónimo de doença?

A halitose ou mau hálito pode ocorrer devido à falta de bons hábitos de higiene oral, mas pode também ser um sinal de algum problema de saúde. Pedro Lopes, médico de clínica geral, diz-lhe que doenças costumam estar associadas a esta condição.

Disseram-me que o mau hálito pode ser um sinal de alarme do organismo. É verdade? O que diz a boca sobre a nossa saúde? Que problemas pode o mau hálito evidenciar?

É verdade, a halitose (ou mau hálito) pode ser um indicador de que algo de errado se passa com a nossa saúde.

Na maioria dos casos, a halitose resulta de problemas da cavidade oral, nomeadamente de cáries e de doenças das gengivas. Contudo, existem inúmeras doenças sistémicas que podem revelar-se através de alterações do hálito que podem fornecer elementos importantes na avaliação e no diagnóstico dessas condições.

Alguns distúrbios metabólicos, como a diabetes mellitus, podem manifestar-se pela presença de um hálito característico que resulta de substâncias químicas produzidas pelo organismo como consequência dessas doenças. No caso da diabetes, o organismo não tem níveis de insulina suficientes para garantir a produção de energia a partir dos hidratos de carbono e, por isso, o nosso corpo vai recorrer aos ácidos gordos para produzir energia. Do metabolismo das gorduras, resulta a produção de corpos cetónicos, entre outras substâncias, que se acumulam no sangue e que conferem um odor característico a acetona ou a maçã verde a que chamamos hálito cetónico. Esta situação chama-se cetoacidose e é uma das complicações mais graves da diabetes, podendo, em casos extremos, levar à morte.

Outra causa importante de mau hálito nos indivíduos diabéticos é a doença periodontal, que se manifesta por hemorragias gengivais frequentes, uma vez que estas pessoas apresentam maior dificuldade no controlo das infeções da cavidade oral.

A doença renal crónica é outras das doenças que se podem manifestar através do hálito, que nestas situações apresenta um odor característico a peixe, urina ou amoníaco. Na insuficiência renal terminal, a função renal está de tal forma comprometida que o rim não é capaz de filtrar e eliminar os resíduos tóxicos do sangue, que assim se acumulam no organismo e vão afetar outros órgãos e sistemas.

O refluxo gastroesofágico, isto é, a passagem de conteúdo ácido do estômago para o esófago, pode estar associado a mau hálito, quer pela putrefação dos resíduos alimentares refluídos, quer pelas alterações do pH, que permitem a proliferação, na cavidade oral, de determinadas bactérias que estão associadas à produção de substâncias responsáveis pelo odor desagradável.

As situações de xerostomia, termo médico para designar os casos de boca seca, também podem resultar em halitose, como consequência do desequilíbrio das bactérias existentes na cavidade oral, que resulta das alterações do pH provocadas pela diminuição da quantidade de saliva.

Por mecanismos idênticos, também os indivíduos com roncopatia (ressonar) ou que sofrem de apneia do sono podem apresentar halitose matinal. Estes doentes têm tendência para respirar preferencialmente pela boca durante o período noturno, pelo que a mucosa da cavidade oral vai ficar desidratada, com consequente alteração do pH e da composição de microrganismos presentes na boca.

Nas crianças pequenas, o mau hálito pode ser causado por um corpo estranho, como um pedaço de comida alojado, por exemplo, na narina, ou pela presença de hipertrofia dos adenoides, que, dificultando a respiração, pode levar a criança a respirar de boca aberta, em particular durante o sono.

Além destas situações, alguns tipos de cancro, como o cancro do estômago ou o do pulmão, podem ser diagnosticados com base em testes que detetam e determinam a quantidade de certas substâncias relacionadas com a doença no ar exalado.

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