“Quando chego a casa tarde, depois da Passadeira Vermelha, e vou ao quarto dar-lhes um beijinho, e elas, a dormir, envolvem os seus braços no meu pescoço e dizem ‘Amo-te, mãe’… não preciso de mais nada. É a coisa mais espetacular do mundo”
Ana Marques, Apresentadora SIC
![Quando as crianças chegam à nossa vida. Com Ana Marques julia-e-ana-site](https://julia.pt/wp-content/uploads/2018/05/julia-e-ana-site.jpg)
Júlia e Ana Marques, mães de gémeas
Há várias razões por detrás deste convite a Ana Marques para colaborar em Júlia − De Bem com a Vida no Dia da Mãe. Primeiro, somos ambas mães de gémeas. Une-nos esta cumplicidade acrescida. Depois, a Ana Marques é o rosto, assumido no seu livro As Minhas Gémeas, das histórias da gravidez e da maternidade que… não correm tão bem. Nem sempre a chegada das crianças é aquele momento encantador de que se fala. E quase ninguém tem a coragem de falar disso. Há complicações e imprevistos que se atravessam pelo caminho. E não há partos iguais. Ana Marques e as gémeas Laura e Francisca tiveram a vida em risco. E Ana conta-nos como foi reconstruir “os cacos” ao regressar a casa e despertar para o maior desafio da sua vida: ser mãe.
![Quando as crianças chegam à nossa vida. Com Ana Marques ana-site-2](https://julia.pt/wp-content/uploads/2018/05/ana-site-2.jpg)
Ana Marques
A pré-eclâmpsia é uma doença que ocorre no início da gravidez e caracteriza-se por hipertensão, edemas e libertação das proteínas na urina. Em Portugal, estima-se que afete 2 a 3% das gravidezes. Ana Marques foi incluída nesta percentagem quando, há oito anos, deu conta de que sofria de pré-eclâmpsia e foi internada na Maternidade Alfredo da Costa. Laura e Francisca tinham 31 semanas. E Ana Marques não tinha a mínima pressa de dar à luz: “A ideia era as bebés nascerem pouco depois do internamento. A verdade é que aguentei até às 34 semanas e quatro dias.”
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Ana e as Gémeas
As Minhas Gémeas, o livro de Ana Marques, não se foca apenas na sua história. Ana aborda um conjunto de situações, de pessoas, de pais e filhos que passam por situações idênticas, entre a realidade da cama de hospital e a esperança do regresso a casa. “É um microcosmos que ninguém imagina existir até acontecer uma doença como esta”, recorda Ana.
![Quando as crianças chegam à nossa vida. Com Ana Marques ana-3-site](https://julia.pt/wp-content/uploads/2018/05/ana-3-site.jpg)
Ana Marques
E assim se desvaneceu o conceito poético de parto. “Há hoje um exibicionismo da maternidade fácil. ‘Isto não custa nada, trabalhei até ao último minuto.’ Criou-se à volta da maternidade um certo heroísmo e pragmatismo, levando a que as mulheres que passam por determinadas situações complicadas se sintam menos mães, menos mulheres, menos protetoras. E isso acaba por ter repercussões”, conta.
Ana recorda as mães com quem falou e as cartas que recebeu na sequência do seu livro: “Houve quem me dissesse que levou anos até endireitar de novo a cabeça…”
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Ana Marques
“Acontece que nós idealizamos. Idealizamos o casamento, idealizamos os bebés e também idealizamos o momento do parto. E de repente a idealização cai por terra. E nós não sabemos reagir a tudo o que está a acontecer ao mesmo tempo. O meu livro não é só sobre a minha doença. É também sobre muitas outras doenças que podem acontecer em qualquer gravidez.”
Voltando ao momento do parto: “Se por um lado queria as minhas filhas cá dentro, no meu casulo, por outro, quando nasceram, só pensava: ‘não percam um minuto, levem-nas já para conseguirem salvá-las.’”
Veio a festa e as comemorações. Laura e Francisca estavam a salvo. Mas Ana recorda-se de, no recobro, ter adormecido e de ter sido acordada repentinamente: a pré-eclâmpsia, que era suposto passar, agravara-se. Ana corria risco de vida.
Laura e Francisca chegaram mais cedo a casa. E Ana lutava com todas as suas forças para abandonar o hospital, consciente de que o longo internamento a afetava psicologicamente.
“Depois é regressar a casa e juntar os cacos. Reconstruir uma história que em tudo é diferente daquela que imaginámos a vida inteira. Podem chamar depressão, baby blues, adaptação. Mas aquele momento foi duro.”
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Ana Marques
Os sinais…
“E naquele momento estamos completamente sozinhas. Porque nem as mães, as melhores amigas ou os nossos maridos se apercebem. Porque também não dizemos a ninguém. Pomos a cabeça na almofada a chorar, sem saber bem porquê.”
E se calhar temos todos, mães, melhores amigas, de começar a perceber alguns sinais.
O puzzle…
“Depois, os cacos acabam por se juntar. E fazemos com eles um puzzle muito certinho. Todos os dias nos vamos apaixonando mais um bocadinho por elas. E cada fase é melhor que a anterior. Até à fase em que são companheiras e em que já falamos a mesma linguagem”, conta Ana.
Viajar é das atividades de lazer que mais gostam de fazer em conjunto, em família. Todos os anos, partem à descoberta de um destino. Tailândia e Estados Unidos já estão no passaporte. A próxima viagem ainda está em discussão. “Uma quer a Rússia, outra o México. Acho que ainda vamos parar à Islândia”, diz Ana.
Ana afirma que ser mãe de gémeas é… “respeitar a individualidade de cada uma”. É ter sempre uma espécie de sirene ligada: “Não comparar, nunca comparar.”
Até porque não há comparações possíveis. Laura gosta de inventar. E está feliz por ter descoberto que existe um curso que lhe permitirá concretizar as suas ideias. Quem sabe se será designer ou engenheira. Francisca é virada para a condução. Aspira a ter um Uber por sua conta.
Além de cúmplices, revelam ainda aquilo que Ana chama de compensação: “Quando uma está triste, a outra puxa para cima!”
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Ana Marques… em criança
Mãe Ana Marques
Dia do Filho Único… Há dias em que aproveito uma consulta, por exemplo, só com a Laura ou com a Francisca e acabo por prolongar o tempo e vamos lanchar. E elas ficam todas contentes. Parece que os laços se estreitam. A comunicação fica mais fluida.
Privacidade… “Eu não as costumo mostrar. E elas não querem mesmo aparecer.”
Ser mãe… é a melhor coisa do mundo. Mas o maior desafio da minha vida.