Há pouco menos de um mês, 22 mil mulheres desfilaram nas ruas de Seul, na Coreia do Sul, para protestar contra a impunidade que existe perante as práticas a que batizaram de “molka”: imagens de natureza sexual captadas, secretamente, em transportes públicos e em casas de banho.
A marcha do Direito ao Desconforto foi considerada pelos media local como a maior manifestação de sempre de direitos das mulheres na história da Coreia do Sul. “A minha vida não é o teu filme pornográfico”, lia-se num dos cartazes empunhados pelas vítimas.
E são muitas na Coreia do Sul. Segundo refere uma notícia do Le Monde, 84% das 26.000 vítimas registadas entre 2012 e 2017 são mulheres.
Han Jin-young é o rosto deste cenário que tem tudo para ser uma cena cinematográfica. Infelizmente faz parte da vida real de Han, uma funcionária, de uma empresa localizada em Seul, que foi surpreendida com uma mini-câmara oculta na sanita da casa de banho. Quando estava prestes a sair da casa de banho, Han conta que reparou num orifício estranho na tampa da sanita. Foi assim que ao levantar a tampa localizou a câmara. Han confrontou o suspeito, o vice-presidente da empresa que usava esta artimanha para acompanhar os movimentos mais íntimos das suas colaboradores. Han abandonou o emprego, ao contrário do vice-presidente que limitou-se a pagar uma modesta multa de 300 euros.
O presidente do país, Moon Jae-in, reconheceu recentemente que este tipo de atividades ilegais tornou-se “parte da vida diária”. No dia a dia, há predadores que têm mini-câmaras nas canetas, nos telemóveis, nos relógios e nos sapatos, registando desta forma imagens sem autorização.
O governo prevê a inspeção de casas de banho e edifícios. Mas as leis atuais e a passividade da polícia não ajudam.
Não. A epidemia do voyeurismo não está concentrada na Coreia do Sul.
Poucos dias após a Marcha do Desconforto, a 15 junho, o parlamento britânico preparava-se para aprovar um projeto que iria considerar crime o upskirting. O upskirting está na ordem do dia: trata-se de filmar, em transportes públicos ou outros locais movimentados, debaixo da saia ou outra peça de roupa de uma mulher, sem o seu consentimento. Estas imagens são muitas vezes partilhadas em sites pornográficos. Na Escócia já é considerado crime. No Reino Unido, a aprovação do projeto foi barrada pelo deputado Christopher Chope, que considera a necessidade de uma análise mais intensa do tema.
“Vergonha! Vergonha!”, ouviu-se no parlamento, perante a impossibilidade de tornar crime o upskirting.
Vergonha! Vergonha!