Birras entre irmãos

“Precisamos de perceber de que forma nos relacionamos com cada um dos nossos filhos e se de vez em quando não estaremos a criar situações que vão dar em conflitos entre os miúdos”

“Uma criança de seis anos que já é autónoma à mesa e que regride, e diz que já não consegue comer sozinho a sopa. Então será que agora vou ter de lhe dar a sopa também? Não, necessariamente. O que a criança está a pedir é atenção”

 

As estatísticas indicam que os irmãos brigam, em média, a cada 15 minutos. Qual deve ser o papel dos pais nesses conflitos?
Ao longo do livro Para de chatear a tua irmã e deixa o teu irmão em paz falamos sobre a forma como os pais devem intervir. E é importante, desde logo, fazermos essa diferença: devemos intervir sempre que necessário mas não devemos tomar partido ou resolver a questão dos miúdos. E qual é a diferença? Intervimos para ajudar a mediar o conflito e a fazer com que os miúdos escutem o que estão a dizer um ao outro, falando sobre as suas necessidades. Ao mesmo tempo, precisamos de lhes dar ferramentas para gerirem os seus conflitos.

Acontece que, a maior parte de nós não aprendeu essas ferramentas ao longo da vida e este livro dá-nos a conhecer esses instrumentos. Assim sendo, quando existe uma zaragata física em que os miúdos não estão a conseguir parar ou quando se estão a insultar verbalmente, é útil pararmos a discussão e colocá-los em segurança.

Quando são muito pequenos, é importante que possamos lembrar quais são as regras e depois ajudá-los a auto-regularem-se. Esse é o nosso papel. É cansativo, tem alturas em que parece que andamos sempre a fazer o mesmo mas é mesmo assim.

Da minha experiência e quando usamos as boas formas, vamos colher bons resultados. Quais são esses? São miúdos que, no meio de um conflito, aprendem a geri-lo, escutando e fazendo-se escutar e negociando com o outro. E aí vamos perceber o quanto este nosso investimento de tempo e na nossa própria aprendizagem fazem sentido e têm muito valor.

Uma relação conflituosa entre irmãos, na infância, indicia necessariamente uma má relação em adultos?
Felizmente, não! Nem tudo o que acontece na infância se mantém. A imaturidade dos miúdos, a dificuldade que têm em serem mais auto-regulados e também as suas próprias inseguranças estão na origem dos conflitos. Quando ajudados, não terão de manter esse padrão quando forem adultos.

Quais as competências que devem ser dadas às crianças, a propósito destes conflitos na infância, para que saibam criar relações saudáveis em adultos?
Antes de tudo, gestão das emoções, ou seja, serem emocionalmente mais inteligentes. E isso só podem aprender com os adultos que os rodeiam. Depois disso, aprenderem a escutar as suas necessidades e pedirem-nas da melhor forma. Para explicar o que quero dizer com isto, posso dar como exemplo: uma criança de seis anos que já é autónoma à mesa e que regride e diz que já não consegue comer sozinho a sopa. Será que o irmão de 9 meses tem essa ajuda dos pais? Então será que agora vou ter de lhe dar a sopa também? Não, necessariamente. O que a criança está a pedir é atenção na mesma medida que o irmão, mas não está a saber pedir. Ele diz ‘se eu não souber comer, a minha mãe ou pai vai dar-me atenção, vai virar-se para mim e ver-me’.’Então, não só preciso de saber que esta é a forma que ele tem de pedir-me aquilo que precisa da forma que ele acha que eu vou dar como também preciso de me antecipar e dar-lhe a atenção devida sem que ele tenha necessidade de me pedir de forma indevida.

Que estratégias é que os pais podem adotar para manterem, eles próprios, a sua própria calma e paz interior, perante as inevitáveis brigas dos filhos?

Antes de tudo precisam de olhar para o conflito de uma forma natural. Ele acontece em todas as relações. Depois precisam de saber que o conflito entre os irmãos não é um conflito que lhes diga respeito. Aquilo que precisamos de saber fazer é ajudá-los a gerirem esses conflitos, a evitá-los se forem de evitar e a negociarem. Finalmente, precisamos de perceber de que forma nos relacionamos com cada um dos nossos filhos e se de vez em quando não estaremos a criar situações que vão dar em conflitos entre os miúdos (como o caso acima da sopa – não fui eu que criei mas estava no meio). E então antecipar-me sempre que isso é possível ou enquadrar a situação sempre que for possível.

Que cuidados se devem ter ao anunciar a uma criança a chegada de um irmão?

Os conflitos entre irmãos podem nascer – ou criarem semente – ainda o bebe não está cá fora. Coisas como ‘Agora vais ter de emprestar as tuas coisas ao teu irmão’ têm como objectivo fomentar a partilha mas na verdade assustam os miúdos porque o irmão ainda não nasceu e já lhe está a ficar com as coisas.

Assim sendo, é importante o irmão ser um dos primeiros a saber que vai ter um irmão e que essa é uma decisão dos pais. E depois é gerir a normalidade dos dias, integrando o novo elemento da família que chegará entretanto da forma mais natural possível.

 

"Precisamos de perceber de que forma nos relacionamos com cada um dos nossos filhos e se de vez em quando não estaremos a criar situações que vão dar em conflitos entre os miúdos" Magda-dias-Crédito-Pau-Storch-002"Precisamos de perceber de que forma nos relacionamos com cada um dos nossos filhos e se de vez em quando não estaremos a criar situações que vão dar em conflitos entre os miúdos" Para-de-chatear-a-tua-irma-WEB-002Magda Dias é a autora do blogue Mum’s the boss e do site Parentalidade Positiva. É coach e formadora nas áreas comportamentais e comunicacionais há mais de 12 anos.

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