E agora digam-me: merece o português ser enganado?

É assim o português.

Crónica de Magda Fernandes
Mãe, Mulher, Advogada. De bem com a vida.

E agora digam-me: merece o português ser enganado? Magda-Fernandes

Perante a devastação e a desgraça que em 2017 assolou Pedrogão Grande, e outros pontos do país, os portugueses uniram-se para ajudar. Com mantimentos, doações, ajuda no local. Foi impressivo.

Uns tempos depois, discute-se onde foram parar os donativos? Porque se mantêm tantos nos locais de armazenamento e de quem é, afinal, a responsabilidade.

Estamos nós a discutir a vergonha disto tudo, e o cilone Idai devasta Moçambique, a Beira em particular.

E os portugueses, ainda que descrentes com as entidades, com o governo, com as câmaras, com os bancos, unem-se novamente para ajudar. O apoio a Moçambique é ao segundo, cobrindo chamadas de valor acrescentado, envio de mantimentos, de dinheiro, doações, aviões, militares, ajuda médica. E continua a ser impressivo, sobretudo para quem só pode estar descrente sobre o destino das doações que faz.

E isto leva-me a uma conclusão apenas: podem enganar-nos, podem manipular a nossa consciência de solidariedade, mas há algo muito entranhado no povo português: o português é generoso. É solidário.

Mesmo que sinta que está a ser enganado, o português não vira as costas nem pensa no seu umbigo. Não pensa – à primeira caiem todos, à segunda só cai quem quer. Não.

O português cai as vezes que for para cair. Mas se o chamarem a ajudar, com muito ou pouco que tenha, ajuda.

No outro dia, no supermercado, apanhei as senhoras do banco alimentar. Detive-me uns minutos a apreciar a quantidade de pessoas que saíam da caixa com bens para doar. E foram mais ou menos todas. Com mais ou menos mantimentos, de maior ou menor valor.

Está-nos no sangue. É assim o português. E agora digam-me: merece ser enganado?

 

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